Um suspeito de praticar maus-tratos contra os animais foi preso na tarde de ontem
INHAPIM– O vídeo que circula pelas redes sociais repercutiu na região e em outras localidades. O que para um grupo de rapazes parecia diversão, para muitas pessoas foi considerado uma barbaridade. Alguns seguravam dois cachorros pelas patas, enquanto outros mutilavam os órgãos genitais dos animais. Foi utilizado um canivete para a prática criminosa.
O fato aconteceu em Tabajara, zona rural de Inhapim. Uma pessoa divulgou as imagens e nome dos suspeitos e rapidamente a postagem espalhou. Indignados internautas pediam Justiça e responsabilização dos autores, que não tiveram nenhuma compaixão ao sofrimento do cachorro.
Sobre o caso e o desafio de cuidar dos animais de rua, o DIÁRIO DE CARATINGA conversou com as protetoras de animais que atuam em Caratinga. Elas preferiram não se identificar temendo represálias, mas comentaram que o caso de Inhapim chocou até mesmo a quem está acostumado a lidar com as mais diversas maldades cometidas contra estes animais. “Tivemos conhecimento pelo vídeo da internet, que nem conseguimos assistir até o final. Deu para perceber que era maldade, pelo animal ali caído e os gritos do animal. É impressionante como o ser humano consegue chegar a fazer uma coisa com um ser que nada fez para ele. Sabemos que uma senhora recolheu os dois cachorros e estava cuidando. Eles não morreram, estão sendo cuidados, tomando antibióticos. Foi um grupo de jovens que estavam bêbados, rindo e fazendo essa barbárie com esses animais”.
Elas afirmam que essa é uma prática frequente na região, assim como outros tipos de maus tratos. “Já encontramos cachorro andando com arame enfiado no olho, caso de jogar do segundo andar da casa e ficar todo quebrado ou jogar fora porque estava doente. Casos de zoofilia, que é ter relações sexuais com animais são demais, não imagina o quanto. Inúmeros casos de tumor venéreo transmissível na cidade, que se imagina que devido a machucar a vulva do animal desenvolve-se um tumor que vai passando para outro”.
Segundo as protetoras, cuidar destes animais é um trabalho árduo. “Nós que trabalhamos nessa causa é todo dia, cachorro abandonado, violentado sexualmente, todo tipo de coisa. Apedrejado, olho furado, pessoas que jogam o carro em cima do cachorro para deixar aleijado ou mata. Há quem sai para viajar e deixa o cachorro chorando. É um trabalho muito difícil sem apoio do poder público, independente. Trabalhamos recolhendo os animais abandonados, cuidando e colocando para adoção. Adoção é uma coisa muito difícil, ninguém quer e quando pega é para jogar na rua de novo. Para fazer esse trabalho precisamos de um lar temporário. Pedimos à população, quem tiver um quintalzinho, uma varanda, para acolher esses cachorros. Se não tiver esse local será um número restrito de animais ajudado. E 99,9% dos cachorros de Caratinga têm doença de carrapato, até os que moram dentro de apartamento. E os que estão magrinhos na rua precisam de um lar temporário e vamos dar a ração, remédios, só precisamos do local. Quando estiver bom providenciamos a castração e se não tiver a castração, infelizmente soltamos à rua de novo”.
LEI
Em dezembro do ano passado, o governo de Minas Gerais regulamentou em decreto, a lei que pune os praticantes de maus-tratos contra os animais no estado. Pelas regras, quem maltratar um animal estará sujeito a multa de até R$ 3 mil, o que não exclui as sanções penais contra o agressor. O decreto define os casos considerados maus-tratos. São eles os atos ou omissões que privem o animal de suas necessidades básicas, lesar ou agredir, causando sofrimento, dano físico ou morte, abandono, obrigar o bicho a fazer trabalho excessivo ou superior às suas forças e submetê-lo a tratamentos que resultem sofrimento.
Os infratores ficam sujeitos a multa e ao recolhimento do animal, além da responsabilidade por pagar o tratamento veterinário pelos males causados. A multa é de R$ 975 para maus-tratos que não acarretem lesão ou óbito, R$ 1.625 para quem provocar lesão e R$ 3.250 para quem causar a morte do animal.
Com esta nova lei, elas esperam que o caso de Inhapim sirva de exemplo e os responsáveis sejam punidos. Também há a expectativa de parceria com órgãos como a Polícia Militar. “Nós protetores não temos poder para nada, não podemos entrar na casa de ninguém sem apoio de uma autoridade. E agora esperamos que a lei seja cumprida, porque sempre vivemos um joga de empurra quando denunciávamos um animal em situação de maus tratos. Estamos confiantes que a polícia irá trabalhar agora junto conosco”.
E finalizam deixando um alerta para aqueles que praticam maus tratos, o que não se restringe apenas ao que foi feito em Tabajara que elas consideram uma “atrocidade”. “É um cachorro que está preso, como já tivemos notícia de alguns que estavam sangrando, amarrado pelo arame, morrendo de fome, pele e osso, sem conseguir sair. São os gatos com olhos furados, pedaço de pau espetado no ânus, cavalo morrendo carregando peso. Estabelecimento comercial de Caratinga que os cachorros ficam sem ventilação, em gaiolas minúsculas, com cheiro de creolina danado e se falarmos alguma coisa é ignorância danada. Mas, as protetoras mandam um aviso de que a lei está chegando e uma hora vai começar a ser cumprida. Existe punição”.
PRISÃO
Durante o dia de ontem, a Polícia Militar de Meio Ambiente realizou rastreamento para localização do grupo que participou da mutilação do animal. Até o fechamento desta edição, a Reportagem recebeu a informação de que uma pessoa já havia sido detida.