Três ônibus da empresa, que estão em situação irregular, foram apreendidos pela PRF. Passageiros reclamaram da demora da Itapemirim em tomar providências
CARATINGA – Era o ano de 1946, quando o jovem Camilo Cola voltava a Cachoeiro de Itapemirim (ES) após lutar na Segunda Guerra Mundial, na Itália, como integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com o dinheiro ganho em território italiano, comprou um Ford Hercules e começou a transportar cargas e passageiros. A empresa cresceu e se tornou Viação Itapemirim, sendo a maior do Brasil e uma das maiores da América Latina. Mas hoje a situação é outra, conforme foi demonstrado no início da noite desta terça-feira (9), quando três ônibus da empresa foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) por estarem com a documentação em atraso e os tacógrafos em situação irregular, pois não tinham vistoria do INMETRO (Instituto Nacional Metrologia, Qualidade e Tecnologia). A situação desagradou aos passageiros, que reclamaram da demora da empresa em tomar providências, algo que foi feito as 22h30.
A ABORDAGEM
A abordagem feita no posto da PRF em Caratinga aconteceu por volta das 18h. Os ônibus abordados faziam as seguintes linhas: Mantena (MG)/São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ)/Salvador (BA), Teófilo Otoni/São José dos Campos (SP). Ao todo, 91 passageiros seguiam nos veículos. Segundo o PRF Luiz Tarcízio, estava sendo feita uma operação rotineira quando houve a abordagem do primeiro ônibus da viação Itapemirim/Kaissara. “Solicitamos a documentação do veículo, mas o motorista disse que não estava de posse desse documento. Então verificamos no sistema e constatamos que último IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) pago tinha sido no ano de 2015. Também constatamos que o tacógrafo não estava aferido pelo INMETRO. É importante o tacógrafo estar funcionando adequadamente, pois em cada de acidente, é esse aparelho que vai dizer a velocidade do veículo”, explicou o PRF.
Em seguida outros dois ônibus da mesma empresa foram abordados e a situação se repetiu. “A preocupação da Polícia Rodoviária Federal é com a segurança dos passageiros, das pessoas que estão sendo transportadas. E um ônibus estar transitando onde seguro obrigatório está atrasado, que o IPVA não está em dia e o tacógrafo não aferido, está colocando em risco a vida de todos que estão dentro do ônibus. Caso um veículo desse se envolva em um acidente, onde tenha vítimas fatais, como as famílias das vítimas vão recorrer? A PRF está prezando pela vida dos passageiros”, frisou Luiz Tarcízio.
“ISSO É UMA VERGONHA”
As irregularidades causaram transtornos e aborrecimentos aos passageiros, que expressaram toda sua revolta. Micaele dos Santos, que embarcou em Inhapim e seguia para São Paulo, falou de sua indignação. “Eu pago IPVA do meu carro todo ano e o da empresa está atrasado desde 2015. Isso é uma vergonha! Eu sempre viajo e isso nunca tinha acontecido”, protestou a passageira.
Por sua vez, Agnaldo Rayol, que tomou o ônibus em Engenheiro Caldas e também seguia para São Paulo, mostrou sua revolta repetindo o bordão usado pelo jornalista Boris Casoy. “Isso é uma Vergonha! É um absurdo uma empresa desse porte fazer isso com o povo. É um abuso e mostra o país em que vivemos”.
Diógenes Nunes, que embarcou em Caratinga e tinha como destino a cidade de Feira de Santana (BA), expressou sua opinião. “Situação constrangedora. Paguei quase 300 reais pela passagem. A viagem chega a durar 18 horas. Tinha feito minha programação, sexta-feira (12) trabalhar e agora atrasou tudo. Vergonha a empresa demorar três anos para pagar o imposto. Se acontecesse algo na estrada, estaríamos descobertos”, pontuou Diógenes.
PROVIDÊNCIAS
Por volta das 22h30 de terça-feira, um representante da empresa conseguiu locar dois ônibus para levar os passageiros que seguiam para o estado de São Paulo, já os que iam para Salvador, um ônibus da empresa, que está em situação regular, foi usado. A empresa ainda foi orientada a servir refeição para os passageiros. Os que seguiam para São Paulo jantariam em Realeza, distrito de Manhuaçu, já os que tinham como destino Salvador, fariam as refeições em Governador Valadares.
No entanto, Diógenes Nunes fez contato com a imprensa e disse que em Governador Valadares a empresa não providenciou alimentação aos passageiros. “Quando chegamos aqui (Governador Valadares) quem disse que o gerente tinha ligado para o restaurante sobre o nosso jantar. Não houve ligação. Todo mundo com fome. Tivemos que pagar pelos alimentos”, protestou. No decorrer da viagem, o ônibus da empresa Itapemirim apresentou defeito mecânico quando já estava em solo baiano.
A Itapemirim chegou a emitir a seguinte nota sobre o assunto: “A Viação Itapemirim S/A, vem por meio desta, esclarecer o corrido sobre a apreensão dos carros em Caratinga no Estado de Minas Gerais. Informamos que foi um evento pontual e, ao termos ciência do fato, tomamos todas as providências devidas e a situação fora resolvida. Lamentamos o ocorrido e estamos trabalhando para que não ocorram situações como esta”.
Durante o dia de ontem, ônibus da Itapemirim foram vistos passando pelas avenidas Dário Grossi e Moacyr de Mattos, vias que normalmente não são usadas pelos veículos da empresa, já que sempre trafegam pela BR-116, perímetro urbano de Caratinga, porém a Itapemirim não se pronunciou sobre essa situação.