Semana educativa busca conscientização para a correta destinação dos resíduos sólidos e prevenção aos desastres naturais
CARATINGA– As fotografias trazem à memória um olhar sobre a tragédia do passado. As lembranças das enchentes de 2003 e 2004 ainda são dolorosas para quem viu tudo se perder nas águas. Mas, a imagem também é capaz de trazer reflexão sobre as consequências da falta de conscientização. Objetos variados lançados nos córregos e nos rios são um alerta. Os bueiros, que seriam responsáveis por conter parte da água que eleva o nível dos rios, muitas vezes estão entupidos. O lixo gerado é levado pelas enxurradas, causando ainda mais a elevação do volume das águas.
O momento é de repensar as atitudes. É com este pensamento que ontem teve início a Semana Municipal de Defesa Civil. O objetivo é chamar a atenção da população para a importância das medidas de prevenção de desastres. Para isso, o foco tem sido em apresentar a importância da adequada destinação do lixo produzido.
Quem passou pela Praça Dom Pedro II na tarde de ontem pôde ver uma exposição de fotos das enchentes registradas em Caratinga e os danos provocados. “Foi uma coisa horrorosa. Muita tristeza. Se a gente que não perdeu nada diretamente consegue lembrar, imagina para os comerciantes, por exemplo?”, indagou um cidadão que passava pela praça.
A Defesa Civil de Caratinga está gerenciando uma semana inteira com diversas atividades voltadas para a conscientização dos moradores. Hoje acontecerá panfletagem nos semáforos da Praça Getúlio Vargas e Rua Dr. José de Paula Maciel. Amanhã será feita a retirada de lixo acumulado no Rio Caratinga. O encerramento acontecerá na sexta-feira (20), com exposição do lixo retirado do leito do Rio Caratinga e exposição de trabalhos recicláveis (papelão, garrafas pet, garrafas de vidro, plástico, papel, tampas de garrafa e pneus) feitos pelas escolas públicas.
Os agentes também estão fornecendo dicas de como os moradores devem proceder em caso de chuvas intensas. O diretor do Departamento de Defesa Civil, João Batista Bárbara, disse que essa é uma maneira de chamar a atenção da sociedade sobre os perigos de descartar resíduos sólidos nos rios e demais cursos d’água. “Estamos fazendo um trabalho de prevenção para a população mostrando o que é a Defesa Civil. Vamos centrar muita na questão de lixo nos rios, trabalhando a prevenção que é muito importante, porque Caratinga é uma cidade a nível do rio e os casos de enchente são muito graves. A maior das causas também é o lixo que às vezes se acumula nos bueiros, entope e faz alagamento”.
João Bárbara também chama atenção para a situação crítica dos córregos. “Hoje estão jogando pneus, cadeiras, enceradeira. Qualquer lixo que se pensar tem. É conscientizar a população a nos ajudar, porque a Defesa Civil não trabalha sozinha, mas em conjunto, para amenizar os problemas”.
DESAFIOS DA CONSCIENTIZAÇÃO
João Henrique é agente operacional da Defesa Civil. Ele atua em vistorias, coleta informações, alerta a população das áreas de risco e realiza o monitoramento de chuvas previstas para a cidade.
Até para ele, que lida diariamente com essas situações, foi possível sentir certo impacto ao ver os registros das inundações na cidade. “Moro em Caratinga há dois anos e quando aconteceram essas situações eu não estava aqui. Quando cheguei na Defesa Civil e vi foi bem impactante. A gente tem uma imagem de um prédio que caiu perto da Rodoviária. Você vê um prédio com aquela estrutura, daquele tamanho, caindo dentro do rio. Foi talvez uma falta de informação da pessoa que construiu, de preparar adequadamente a estrutura do prédio. Hoje no local foi feito um muro de contenção, porque lá era um barranco e foi construída uma casa em cima. A casa que está lá não corre mais esse risco, porque foi feito esse muro de contenção. Talvez se quando foi construído esse prédio tivesse sido feito esse muro de contenção, não teria caído. É uma falta de informação, planejamento e conscientização da população também”.
Mas, conscientização não é uma tarefa fácil. Quem habita construções irregulares geralmente apresenta certa resistência a deixar o imóvel. Segundo João Henrique, a causa pode passar inclusive por fatores sociais. “Tem conhecimento do perigo que está correndo, mas às vezes não concorda, até mesmo por não ter um lugar para ir se sair da casa dela. A gente tenta pedir para ir para a casa de um parente, que seja mais seguro, mas a população hoje é difícil de entender o risco que está correndo. Já fomos em vistorias que a casa estava em risco iminente de desabamento e a pessoa não queria sair da casa”.
Trabalhar conscientização é um desafio muito grande, como avalia o agente operacional, que cita ainda os chamados três pontos cruciais para a Defesa Civil: prevenção, mitigação e resposta. “A prevenção é a gente tentar tirar essa população da área de risco, do leito do rio, de uma área que pode ocorrer um desabamento ou deslizamento de massa; a mitigação é quando a gente não consegue tirar essa população da área, tentamos junto com a Secretaria de Obras da Prefeitura a fazer um muro de contenção se for um barranco e em conjunto com o Meio Ambiente estamos fazendo a limpeza do leito do Rio Caratinga, com a retirada do mato e do lixo. E a resposta é quando já aconteceu, a gente não conseguiu prevenir, nem mitiga e temos que dar uma resposta para aquela população, ver onde vamos colocá-la, qual foi o dano material ou humano que ela teve e o que podemos fazer”.
Todas as áreas de risco do município estão mapeadas, desde um possível deslizamento de massa, até o desmoronamento de uma casa ou possibilidade de enchente e alagamento. “O rio Caratinga está mapeado, assim como o córrego São João, que passa dentro do município. Classificamos do nível 1 ao nível 3 de risco. Tentamos informar aos moradores que estão nessas áreas de risco da necessidade de desocupação, para que não ocorra óbito, porque hoje o serviço da Defesa Civil é esse. Hoje nossa maior preocupação em Caratinga é com o rio, porque a nossa cidade inteira está construída em volta do rio. Pode ocorrer uma chuva muito carregada, com bastante milímetros e trazer uma adversidade para a cidade, como inundação ou enchente.”, explica João.
João Henrique considera que a semana de Defesa Civil é importante para trazer visibilidade para o trabalho realizado pelo órgão. A maioria das denúncias acolhidas não são deveriam ser protocoladas no local, por isso a necessidade de entender as suas atribuições. “Recebemos muitas denúncias de casa com rachadura, árvore que está para cair e talvez a árvore não seja muito nossa área. Apenas se tiver trazendo risco para a vida, de cair em cima de uma casa, por exemplo. Mas, a situação de árvore seca, vegetação ou que tem que cortar é mais com o Meio Ambiente. Recebemos a reclamação e repassamos, para tentar fazer um trabalho conjunto e até dar uma resposta à população. A Defesa Civil atua em casos de deslizamento de massa, uma casa que está perto de um barranco e a pessoa está vendo que pode cair em cima dela; uma casa com rachadura, que esteja trazendo um risco real aos moradores; essas coisas que estejam mais iminentes. Casas que estejam sendo construídas no leito do rio, pois não podem ser construídas casas a menos de 25 metros do leito do rio. É uma medida de prevenção essa distância de construção. Seriam muito importantes essas denúncias”.
A Defesa Civil de Caratinga ainda realiza o monitoramento das chuvas na cidade. Qualquer informação ou dúvida, o cidadão pode procurar o órgão ou ligar no 199. “Pedimos para a pessoa vir, porque vamos mostrar o mapa no computador, de quanto choveu e quanto está previsto para chover. A previsão de uma semana não é tão real, quanto menos tempo de previsão é mais preciso a chance de chuva. Temos três pluviômetros na cidade, equipamento que mede a quantidade de chuva que caiu naquele local. Temos uma estação meteorológica na Avenida Catarina Cimini, que mede o nível do rio, a quantidade de chuva, temos uma câmera monitorando o rio 24 horas por dia. Essa estação manda em tempo real pelo site a quantidade de chuva que está acumulada de precipitação para o dia. Temos também umas réguas monitorando todas as pontes da cidade, para saber a altura que está o rio”, finaliza.