Professor Sebastião de Oliveira Pedra
Nas últimas décadas a educação brasileira sofreu transformações significativas. Como resultado podemos observar uma ampliação no acesso à escola, e consequente aumento do nível de escolarização da população. Destarte não foram suficientes para posicionar o país em um patamar necessário, sejam pela equidade – igualdade de oportunidades a todos – como pela competitividade e desempenho – que nos remetem a capacidade de do país de desenvolver novas modalidades de produção e trabalho; que são altamente ligadas à capacidade tecnológica, de pesquisa e fundamentalmente, da educação.
Um dos pontos de uma agenda emergente sobre temas educacionais, é sem dúvida a Cidadania. São latentes as discussões sobre este tema. O próprio momento político nos remete ao real sentido da educação, que somente será completo se o processo de escolarização se apropriar de forma efetiva da equidade como ponto chave de transformação social.
Os processos de reestruturação produtiva e cidadania no Brasil podem ser delineados por uma modificação da estrutura de produção que ocorreram em 3 momentos, segundo Leite (1995 apud MARTINS, 2001):
· De 70 a 80: difusão dos círculos de qualidade.
· De 80 a 90: difusão de equipamentos e adoção de várias técnicas japonesas sobre aspectos de organização do trabalho. Exemplo: Just in time;
· De 90 adiante: empresas adotaram técnicas japonesas de gestão e organização.
Estes momentos resultaram na racionalização do trabalho e consequentemente, e uma reestruturação produtiva. Exigindo um atendimento a economia globalizada, sendo que para isto, houve a necessidade de um novo perfil de trabalhador.
A nova exigência do trabalho impactou as políticas sociais, principalmente no aspecto educacional. No Brasil, o perfil neoliberal da reestruturação produtiva resultou em um perfil de trabalhador engajado, estimulado, centralizado, assalariado, estável, que garanta a produção fluída e difusa, flexível, competitivo, atualizado, ter disposição subjetiva para cooperar com a produção, auto empreendedores, colaboradores externos, terceirizados, prestadores de serviços, com habilidades de comunicação necessárias para assegurar as redes de informação e equipes de trabalho.
Esta nova proposta imposta atende aos interesses da classe dominante que a apresenta como interesse universal, porém, o que ocorre é a expressão de uma concepção de educação orgânica ao modelo econômico em curso, ou seja, a versão nacional do processo globalizado de acumulação flexível.
O Estado, influenciado pelas agências multilaterais e pelo empresariado multinacional, não atua de forma a garantir a formação que priorize a confecção de um trabalhador autônomo e crítico.
Contraditoriamente as classes médias e as elites fogem da escola pública, constituída apenas para os desvalidos sociais. Assim, o ensino médio tende a acentuar as desigualdades sociais e não propicia a equidade, levando cada indivíduo a se conformar com sua classe social.
Nunca a educação pública fora tão perversa (OLIVEIRA E LIMA apud SILVA JUNIOR, 2002). Ou seja, o Estado enquanto “controlador ideológico” não tem como objetivo que os estudantes aprendam, passando alguns anos pela escola, sendo passível de fácil controle social do próprio Estado.
A educação como agente de transformação da sociedade. Superando o modelo imposto apenas por legislações, o educador enquanto formador de opinião, e deve compreender que o processo de formação do estudante para o exercício da cidadania e romper com o modelo econômico e político.
Acredito que na prática esta transformação somente será possível através da ação do corpo docente sobre o discente. Uma ação metodológica consciente e eficaz na formação do cidadão e seus propósitos para a sociedade, e fundamentalmente a escola como agência de concentração da cidadania.
Referências:
EVANGELISTA, O; SHIROMA, E. O. Professor: protagonista e obstáculo da reforma.
Educação & Pesquisa. vol. 33, n. 3. São Paulo, Set./Dez, 2007, p. 531-54. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
97022007000300010&lang=pt>. Acesso em 02 de outubro de 2017.
Revista HISTEDBR On-line CIDADANIA E EDUCAÇÃO ENQUANTO VALOR ECONÔMICO: POR UMA PERSPECTIVA DIFERENCIADA, Campinas, nº 54, p. 89-99, dez2013 – ISSN: 1676-2584 89.
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** Arte: PROFESSOR GERALDO LOMEU.
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