Presidente da Apae fala sobre acusação contra Vânia
CARATINGA – Na edição de ontem, o DIÁRIO publicou a matéria “Família acusa assistente social de extorsão”. E nesta sexta-feira (14) uma moradora do bairro Santa Zita, em Caratinga, entrou em contato com a redação e disse que ter passado pela mesma situação alegada pela família de Santa Rita de Minas. Como a denúncia envolve uma funcionária da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Caratinga, a reportagem conversou com o presidente da instituição e também ouviu o presidente da Câmara Municipal de Ubaporanga, já que Vânia Lúcia Costa Pereira, 44 anos, é vereadora por aquele município.
OUTRO CASO?
A notícia chamou a atenção de pessoas que já tiveram contato com a assistente social Vânia e diante disso, uma mãe, que mora no bairro Santa Zita, ligou para a redação do DIÁRIO DE CARATINGA, dizendo que também passou pela mesma situação vivida pela família de Santa Rita de Minas.
A mãe, que também não será identificada para preservar a imagem de seu filho, disse que Vânia “agiu da mesma maneira, contando a mesma história”. O filho desta segunda suposta vítima, tem seis anos, está há um ano na Apae e possui deficiência auditiva. “Tive que pagar o valor exigido por Vânia em quatro vezes para meu filho ter o benefício e só depois de ler a reportagem no jornal percebi que fui vítima de um ‘golpe’”, disse a mãe.
POSICIONAMENTO DA APAE
Na tarde de ontem, a reportagem esteve com André Pena, presidente da Apae de Caratinga. Em primeiro lugar, André ressaltou que a Apae é uma instituição filantrópica, assistencial, que vive de doações. “A diretoria da Apae se pauta na boa conduta, lisura, boas ações, legislação vigente, em especial, respeito a crianças portadores de necessidades especiais, que é a força motriz que nos dá a condição de conduzir a Apae e quero deixar claro, que somos voluntários”.
Sobre o possível caso de extorsão, André disse que assim que teve conhecimento do fato, as medidas administrativas e legais começaram a serem tomadas. “Assim que a justiça se posicionar, com base na apuração tomaremos as medidas cabíveis e aplicáveis no que se diz respeito à funcionária”.
CÂMARA DE UBAPORANGA
Além de assistente social, Vânia é vereadora em Ubaporanga pelo PP (Partido Progressista). O presidente daquela casa legislativa, Nelson Ramos de Souza, informou que tomará conhecimento da denúncia e depois se reunirá com o jurídico para sabe qual medida deve ser tomada dentro da lei.
A DENÚNCIA
De acordo com a denúncia, há menos de um ano, uma mãe, que não será identificada para que a criança não seja exposta, leva seu filho todas as terças e quintas-feiras para se tratar na Apae, pois ele é autista. A família é muito simples e o esposo da vítima recebe apenas um salário mínimo. Para custear os gastos com o menino, que não são poucos, a família recorreu a um recurso da LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social), benefício de prestação continuada que garante um salário mínimo mensal ao idoso acima de 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade com impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo (que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 anos), que o impossibilite de participar de forma plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas.
A mãe fica feliz ao pensar que tem a possibilidade de conseguir ajuda e dar melhor qualidade de vida ao seu pequeno. Até aí, tudo bem. O problema, segundo a mãe, é quando fica sabendo que será obrigada a entregar mais da metade do benefício, caso aprovado, durante 20 meses para Vânia Lúcia.
A assistente social de Santa Rita de Minas de Minas, Giane Alves de Paiva Dias, que fez contato com a família, aceitou conversar com a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA. Segundo ela, no mês de maio, uma vizinha da suposta vítima a procurou indignada depois de ouvir o que a família do garoto autista estava passando. Logo depois, a suposta vítima também procurou Giane em busca de ajuda. “Ela me contou que entrou com pedido de benefício assistencial a quem é carente e tem algum tipo de deficiência comprovada por laudos médicos e ele tem direito a um salário mínimo, mas a Vânia lhe disse ao preencher a documentação que quando ela fosse requerer o benefício, ele não seria concedido, ela deu garantia que não daria certo, mas que a mãe do menino não precisava se preocupar porque ela tinha um amigo, que é advogado, que ajudaria e em momento algum deu o nome dele e ele nunca apareceu”, contou Giane Alves, baseada nas informações passadas pela mãe.
A perícia foi feita em novembro do ano passado na agência do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) de Caratinga. De acordo com Giane Alves, a família contou que Vânia teria dito que para resolver o caso do benefício negado, o advogado cobraria R$ 10 mil e afirmou que se a suposta vítima não quisesse contratar o serviço não teria problema, mas mesmo assim marcaria uma reunião para explicar como seria. “A carta negando o pedido jamais chegou na casa da mãe, porém Vânia foi com uma carta do INSS, que deveria ter chegado no endereço da família, já dizendo que o pedido havia sido concedido ainda em novembro. Vânia foi a primeira a saber da aprovação do benefício e ligou para a mãe dizendo: ‘Pode levantar as mãos para os céus e agradecer que o benefício foi concedido e a carta está comigo’. De fato Vânia estava com a carta original com endereço da família, mas que não chegou em sua casa. Não sabemos como chegou nas mãos dela”, disse Giane.
A suposta vítima recebeu o benefício no início de abril e veio o retroativo, no valor de pouco mais de R$ 3 mil. Segundo informações passadas por Giane Alves, “Vânia comentou que o advogado tinha conseguido tudo, mas a mãe disse que não havia contratado ninguém, pois ela ficou de marcar uma reunião que nunca aconteceu. Então Vânia disse que a mãe tinha uma dívida de R$ 10 mil, dividida em 20 parcelas de R$ 500,00”.
A assistente social de Santa Rita de Minas acrescenta que a família disse que Vânia apareceu com extrato mandado pelo INSS, que não chegou para a família, dizendo para que ela passasse o retroativo e mais uma parcela de R$ 500,00 para abater no pagamento para o advogado. Nesse momento a mãe da criança começa a desconfiar que algo estaria errado. “Ela ligou para Vânia no dia em que recebeu e disse que estava indo a Apae para lhe pagar, porém a assistente social (Vânia) a encontrou na rua e a levou para um estacionamento ao lado da entidade, onde pegou o dinheiro, guardou na bolsa e fez uma anotação em um caderneta com as datas das parcelas a serem pagas. A mãe disse que não poderia entregar R$ 3.000,00 do benefício, pois precisava de ao menos R$ 500,00 para comprar as fraudas que o filho estava precisando”.
De acordo com a suposta vítima, “em maio ela pagou mais R$ 500,00, que Vânia pediu para que ela deixasse com o sobrinho em uma lanchonete do lado da Apae, ela não foi pessoalmente buscar o dinheiro”.
No mês passado, como a família já tinha feito a denúncia ao Ministério Público e a mãe foi orientada a não passar nenhum dinheiro para Vânia. “A mãe disse que não poderia pagar, pois havia acontecido um imprevisto e Vânia disse: ‘tomara que não aconteça nenhum imprevisto da próxima vez’, fazendo com que a mãe se sentisse ameaçada”, contou Giane Alves.
Segundo Giane, esse mês Vânia ligou para a mãe dizendo que o advogado antigo tinha se mudado para Belo Horizonte, e ela havia perdido o papel de receber o dinheiro todo mês para repassar a ele. “Ela procurou a mãe dizendo que o primeiro advogado teria que passar para outro de Caratinga, porque o benefício seria cortado e ele já estaria no caso para assim que acontecesse ele resolver e pediu uma procuração assinada pela mãe. Instruí a mãe a não assinar nada. Ela perguntou o nome do advogado, Vânia disse apenas ‘Silvio’, que pode ser qualquer um”. Com intuito de não permitir que a família continuasse nessa situação, Giane e a suposta vítima procuraram a PM em Santa Rita de Minas, onde foi feito o boletim de ocorrência.
“No último sábado (8), Vânia esteve na casa dessa família, pediu perdão, chorou, disse que agiu por ganância e vaidade e queria devolver R$ 3.500,00, mas a mãe não aceitou, disse que do seu filho eram os R$ 3.000,00. No domingo (9), o pai da criança esteve em minha casa dizendo estar com medo, pois Vânia sabe onde sua família mora e onde ele trabalha, que é em Ubaporanga, cidade em que Vânia é vereadora. Ele estava recebendo ligações de Vânia e na terça-feira (11) a mãe foi abordada no corredor da Apae, perguntando se o dinheiro estava ajudando e reforçou que pelo salário do marido a criança não teria direito ao benefício. Ela sempre conversava sozinha com a mãe. E falou que se alguém procurasse, era para negar, pois poderia perder seu emprego na Apae”, relatou Giane Alves.