(Noé Neto)
Nos dias 06 e 07 de abril tive a oportunidade de, a convite da Superintendência Regional de Ensino de Caratinga, participar no Observatório da Juventude (OJ) da Faculdade de Educação (Fae) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do seminário “Por uma pedagogia das juventudes.” Um momento riquíssimo em debates esclarecedores, palestras e cursos de formação, que trouxeram à tona pontos importantes de serem discutidos não apenas por educadores, mas por todos que lidam direta ou indiretamente com jovens.
Entendendo a importância de propagar esse debate para além dos muros da universidade, quero aqui compartilhar alguns desses tópicos com nossos leitores.
O primeiro ponto que gostaria de destacar são dois questionamentos levantados pelo renomado professor Miguel Arroyo: “Onde a educação está?” e “Onde a educação não está?”. A princípio tais perguntas podem parecer simples, mas elas nos levam a uma reflexão muito profunda do conceito de educação.
Quando se fala em educação, toda a responsabilidade tem sido atribuída às escolas, mas a sociedade como um todo é educadora, uma vez que a educação está (ou deveria estar) em toda parte. Atribuir as glórias ou os fracassos da educação a uma única instituição é desprezar o processo contínuo de formação humana, que passa sim pela escola, mas também envolve a família, a comunidade, o trabalho e a sociedade como um todo.
Não quero aqui eximir a escola de seu papel ou de suas falhas, jogando-os para as demais instituições. Sei que é no ambiente escolar que o “empoderamento” do ser (pensante / questionador / reflexivo) deve acontecer, mas sei também que muitas vezes não acontece, visto que, muitas ações retiram a voz da parte mais interessada, o jovem, colocando-o como um mero expectador. Por isso se faz necessário trocar a “pedagogia para a juventude”, por uma “pedagogia da juventude”, onde o ser jovem é o sujeito da educação.
Outra reflexão importante levantada nesse seminário pelo professor Juarez Dayrell é sobre o processo de formação dos jovens. “Nossa sociedade (escola, família, igrejas, etc), busca formar jovens ou construir jovens?”
Formar é dar condições para que o inacabado se acabe, construir é moldar conforme nosso próprio gosto. Formar é dar autonomia, construir é decidir o caminho alheio.
Toda grande luta revolucionária, toda grande conquista histórica, passa por uma juventude bem formada. Em contrapartida, todo grande golpe, todo grande massacre social, passa por uma sociedade que se deixou ser construída ao bel prazer alheio.
A terceira e última reflexão que gostaria de destacar, entre as diversas que o seminário proporcionou é a parábola do bolo falso.
Estamos na era do virtual, do não real. E a ausência de realidade caminha a passos largos, atingindo os mais impensáveis setores, inclusive a culinária. Atualmente, toda grande festa, seja de aniversário ou casamento, tem um grande e belo bolo falso. Decoração impecável, vários andares sedutores, mas sem nenhum sabor, sem nenhum recheio.
As leis que buscam aprimorar o papel da juventude na sociedade, os novos currículos que vem sendo impostos nas escolas e as mais diversas teorias difundidas na educação, quase sempre são como bolos falsos, encantadores, mas sem recheio. A ação, a prática quase sempre é sem sabor, quase nunca satisfaz os desejos do convidado faminto.
Contudo, o bolo falso faz sucesso, porque nossa sociedade, infelizmente, ainda se importa mais com a aparência que com o conteúdo. Como bem disse a professora Jaqueline Moll, estamos esquecendo que “a vida não cabe no Lattes.”
Enfim, ninguém duvida que os jovens são o futuro, resta-nos saber que futuro queremos:
Um futuro onde a educação está ou onde não está?
Um futuro construído ou formado?
Um futuro com ou sem recheio?
Ainda há tempo de decidir e agir.
Prof. Msc Noé Comemorável.
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel