Escassez hídrica altera a rotina de produtor rural
PIEDADE DE CARATINGA- “O Brasil inteiro está comprometido com a falta d’água. Mas, se não fizermos a nossa economia vai ficando cada vez pior”. Estas são as palavras conscientes do produtor rural Antônio Nogueira da Cunha, o “Toninho Nogueira”.
Aos 67 anos, ele é mais um trabalhador que enfrenta a crise hídrica e desafia as dificuldades dia a dia para manter o sustento e a manutenção de sua produção. A Reportagem esteve em sua propriedade no início deste ano, quando ele falou dos primeiros prejuízos com a seca. Ontem, o DIÁRIO DE CARATINGA conversou novamente com Toninho, que relatou um cenário praticamente igual ao de janeiro de 2015.
O produtor mostrou cada parte de sua plantação e os impactos são visíveis. A primeira parada foi na plantação de inhame. Ele se recorda dos tempos em que a fazenda era de seu avô e lamenta as condições atuais, resultado da escassez hídrica. “Não tem água, estou aguando uma vez por mês ou duas. Não acredito que é por conta da população que esteja faltando água, mas não posso levar aquela vida que eu levava. A gente teve que mudar o jeito de trabalhar. O inhame vai ter uma queda de 60%, adubo não faltou, mas faltou água. A planta não aguenta, assim como a gente não aguenta viver sem água”.
Toninho revela que diante da situação foi necessário interromper alguns tipos de produção, o que classifica como um prejuízo necessário. “Se nós esperarmos dos nossos governantes, só ganhamos multa. Não estamos podendo mais trabalhar. A fiscalização teve aqui e multou algumas pessoas, mas deveriam olhar onde está passando a água, onde está passando o córrego, porque acho que nós todos não vivemos sem água. Sou de acordo em economizar a água. Estou deixando parte das minhas terras à toa”.
Com a crise, o produtor acredita que o cenário pode ser ainda pior, o que se reflete ainda no preço dos produtos. “Não estou esperando chuva para a nossa região agora, porque a gente nem sabe mais de previsão de chuva. Uns dias chovem demais, outros chovem menos. Nunca vi um ano difícil assim e com a tendência de piorar. Milagre vem do céu, vamos ver o que vai acontecer. Infelizmente, as donas de casa vão chegar ao mercado e comprar um quilo de tomate por R$ 12 ou por R$20. Porque estamos colhendo pela metade por falta de água”.
Receptivo, Toninho seguiu para mostrar a plantação de chuchu. O mau tempo mais uma vez prejudicou a produção, o que significa prejuízo. Ele compara o mercado atual e há alguns anos. “Nós vivemos da agricultura sem a ajuda de ninguém. Graças a Deus meu chuchu já ‘fechou’, fez sombra, mas tive que reduzir a água. Lá no Ceasa (Central de Abastecimento) entregava até 40 caixas, hoje é uma caixa de chuchu com uma média de R$ 3. Isso não é dinheiro. Quando vendíamos os nossos produtos na Rua São José ou o comprador não vinha na porta, a gente ganhava dinheiro, hoje é muita exploração. Vale mais quem tem mais”.
ECONOMIA
Para Toninho Nogueira, a palavra chave para enfrentar o momento é consciência. É necessário unir esforços em torno de economizar. “Continuo usando a água de tomar na minha casa. Então tenho que economizar lá e economizar aqui. Se poderia produzir 80%, vou produzir somente 40%. E o preço é o mesmo, o prejuízo fica para o produtor. Isso é uma crise geral, então temos que fazer a nossa parte”.
Numa rápida passagem pela plantação de café, o produtor lamentou: “O café vai dar uma quebra, não está dando qualidade. Toda planta precisa de água”. Ele seguiu para um trecho por onde passava um córrego, hoje, completamente seco. “Só se vê essa seca, mata. E pensar que antes era tanta água que não atravessava ninguém. Aprendi a nadar ali em cima e hoje vendo essa situação, sinto tristeza. Não sei de onde que veio essa falta, mas para o produtor é um grande sacrifício. Está na mão de Deus”.
O desperdício é mais comum dentro das próprias cidades. Para Toninho, não é algo que afeta sua propriedade, localizada na zona rural. Mas, ele deixa um alerta para as pessoas. “Lavar calçada só se estiver muito sujo. Se pede para economizar, todo mundo tem que colaborar. Do contrário, vai faltar para ele, a minha já está faltando. As pessoas devem se conscientizar, respeitar a natureza, para ajudar aqueles que estiverem por perto. Aqui não me afeta, mas afeta os vizinhos”.