Conclave de Endoenças reúne maçons do grau 18 acima em reunião considerada a mais emblemática da Maçonaria Filosófica
CARATINGA – A Câmara Filosófica Raimundo Peres Ferraz, instalada em anexo do Edifício Maçônico Jovino Guzela de Abreu recebeu ontem, dezenas de maçons de várias cidades para uma das mais importantes reuniões da Ordem, o Conclave de Endoenças, de maçons do grau 18, chamados de Cavaleiros Rosacruzes. Todos os maçons que colaram graus além do 18, estão habilitados para participar. Simbolicamente, o Conclave de Endoenças celebra a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo e ocorre exatamente no período pascal.
De acordo com a tradição cristã, o evento ocorre na Quinta-feira Santa, quando Cristo presidiu a celebração da Santa Ceia, com os doze apóstolos, abrindo o tríduo pascal – a Paixão e Morte, na sexta-feira. A Aleluia, no sábado e a Ressurreição, no domingo. A tradição é herança do Sêder de Pessach, celebração judaica. A maçonaria acompanha o costume, com rica ritualística que culmina com o ágape, um lauto jantar onde o prato principal é o carneiro assado, servido com guarnição. Ainda dentro do ritual, algumas partes do animal abatido são incineradas.
O jantar, ou ágape, é servido em outro local, especialmente preparado, obedecendo regras próprias e sob a direção do presidente do Conclave, denominado Atersata, palavra hebraica que quer dizer “o que dirige com total poder, com mão forte”. Era o nome dado ao governador persa de Jerusalém, que acompanhou Zorobabel e Neemias, conforme o relato bíblico do Velho Testamento em Esdras 2;63 e Neemias 7; 65/70. O atual Atersata é Gerson Pires Luz, da Caratinga Livre. A mesa tem a forma de uma cruz, símbolo maior do cristianismo.
Na avaliação do maçom Gerson Pires Luz “todo o desenvolvimento do conclave é ‘como se fosse a Missa da Igreja Católica’”. No entanto, apesar da semelhança de rituais, há diferenças; enquanto entre os católicos o ponto alto é a hóstia – que simboliza o pão e o vinho, reunidos em um só elemento, na doutrina da transubstanciação, e na presença real do corpo e do sangue de Cristo – os maçons acompanham a doutrina de outros ramos da igreja cristã (Igreja Ortodoxa e todas as denominações que surgiram da Reforma Protestante do século 16), que mantêm a separação dos dois elementos, embora creiam, também, na presença real de Cristo naquele ato simbólico.
O Consistório
A Câmara Filosófica Raimundo Peres Ferraz está localizada no Edifício Maçônico Jovino Guzela de Abreu, na Rua Raul Soares. O edifício abriga a Loja Maçônica Caratinga Livre, já centenária; o acesso à Câmara, onde se reúnem maçons dos chamados graus filosóficos – a partir do grau 4 e até o grau 33, conforme o Rito Escocês Antigo e Aceito – se dá por estreita escada ao lado da entrada principal do salão de festas da loja. De imediato, o visitante depara com uma galeria de fotos e antigos paramentos maçônicos usados por Jovino Guzela de Abreu, considerado, talvez, o maçom com a mais longa atividade maçônica de Minas, detentor da mais alta condecoração da Ordem, em nível nacional, a medalha Dom Pedro I, concedida pelo Grande Oriente do Brasil. Além de seu retrato emoldurado, a galeria reúne todas as medalhas que recebeu em vida.
É na Câmara que se reúne, também, o Consistório – maçons que chegaram aos graus 31, 32 e 33 da Maçonaria Filosófica. Fundado há mais de cinquenta anos pelo maçom João Silvestre Gomes, passaram por sua presidência, no período, os maçons Jovino Guzela (26 anos), Antônio Carlos Leles e Gerson Pires Luz (oito anos); atualmente é presidido por Roberto Ligeiro, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.
A decoração é rica em detalhes, o que se vê, mesmo, antes do templo propriamente dito: uma águia de duas cabeças, representando a faculdade que os maçons devem ter, de observar tudo, por todos os pontos cardeais, e outra águia, considerada a ave com a visão mais apurada entre todos os animais. O interior da câmara surpreende pelos detalhes, incluindo o bonito estandarte e a pira – um dispositivo elétrico instalado no altar – que pode ser explicada como a necessidade da eterna vigilância.
Explica o maçom Sérgio Quirino Guimarães, da Loja Maçônica Presidente Roosevelt, de Belo Horizonte, ligada às Grandes Lojas de Minas Gerais, em trabalho publicado na internet, que o maçom, ao fazer estes graus “descobre que os estudos de um Grande Inspetor Comendador (Grau 31) e Sublime Príncipe do Real Segredo (Grau 32) (…) encerram em si ensinamentos fantásticos sobre solidariedade, tolerância recíproca, conclamando os iniciados à consciência dos seus deveres e principalmente atuação efetiva em prol da Ordem e da Humanidade”.
São, segundo ele, “Irmãos lado a lado, estudando, ensinando e aprendendo o valor da Prudência, da Honra e até do Silêncio e tendo apenas dois direitos, a Liberdade e a Justiça”.