Desde a década de 80, nós cidadãos passamos constantemente por um processo de evolução no pensamento. Buscamos nossos direitos e estamos vendo o meio ambiente, o verde e a tranquilidade, como um aliado na busca da tão sonhada qualidade de vida.
Em tempos de crises seja de origem climática, hídrica e financeira, esta nossa relação com o meio ambiente tem ser tornado cada vez mais próxima e através dela é que buscamos formas inteligentes e eficientes para, ao menos, reduzir os efeitos negativos destas crises no nosso dia a dia.
Manter uma área de floresta nativa, e restaurar as áreas que foram um dia desmatadas, é de extrema importância e pode resultar em ganhos financeiros.
Basicamente o ganho financeiro é calculado em razão dos serviços ambientais que a área de floresta pode prestar e a sua extensão.
Os serviços ambientais estão relacionados com a manutenção da biodiversidade, armazenamento e sequestro de dióxido de carbono da atmosfera, serviços hidrológicos como a produção e conservação dos corpos d’agua, controle da erosão, beleza destes ambientes e, também, com suas relações culturais. Sendo que grande parte destes serviços podem ser estimados para a compensação financeira.
Segundo o estudo sobre a “Valoração Ecológica de Áreas de Preservação Permanente” do biólogo Thiago Junqueira Roncon, o valor pago para a preservação de uma área nativa pode chegar até R$ 4.011/hectare/ano. Muito mais que diversas atividades do campo, como a produção de leite, por exemplo. No entanto, como nós ainda necessitamos de evoluir muito mais na questão da percepção do meio ambiente como um aliado do que como um ponto negativo. Estamos muito longe de ter uma valorização tão significativa destes recursos naturais.
Entretanto há algumas formas de buscar recursos financeiros através do Bolsa Verde – Minas Gerais e do mercado internacional de carbono, conhecido como créditos de carbono.
O Bolsa Verde tem o objetivo de apoiar a conservação da cobertura vegetal nativa no estado de Minas Gerais, através do Pagamento de Serviços Ambientais (PSA) aos proprietários de terra que preservam ou que comprometem a recuperar áreas de floresta nativa. Desde a sua implementação até 2014, o Bolsa Verde possui 1860 benefícios, conservando uma área de 57 mil hectares com o pagamento de mais de 11 milhões de reais, que representa uma média de R$ 200,00/hectare/ano. Basicamente, se você possui uma área de 30 hectares de mata nativa você poderá receber, em média, R$ 6.000,00/ano, por exemplo. Entretanto este sistema de PSA possui diversas categorias e os valores podem mudar.
Agora para complementar este apoio financeiro e, também, para transformar uma área de floresta nativa, ou em regeneração, em uma área de renda, pode-se ser utilizado os créditos de carbono. Créditos de carbono representam basicamente a quantidade de dióxido de carbono que a sua área de floresta retira da atmosfera e incorpora em forma de madeira, biomassa de carbono, e na forma de carbono no solo, através das folhas e pequenos troncos no solo durante um dado período de tempo, que descrevemos como o período de um ano. Esta quantidade é vendida a outros países ou empresas que já passaram da sua “cota” de emissão de dióxido de carbono para atmosfera. Como estes países ou empresas precisam continuar sua produção eles compram os créditos de carbono para compensar suas emissões de dióxido de carbono que passaram da sua “cota” anual.
Desta forma, áreas de floresta são consideradas fontes de crédito de carbono, pelo fato destas áreas retirarem o dióxido de carbono da atmosfera. Sendo assim, se estimarmos que uma área de floresta retire cerca de 36 toneladas de dióxido de carbono por hectare num período de um ano, que é bem próximo do observado, e que a os valores da tonelada de dióxido de carbono varia, atualmente, entre US$ 0,68 a US$ 50,00 – entre R$ 2,00 a R$ 150,00 – mas que a média ponderada é de US$ 7,88 ou aproximadamente R$ 24,00. Temos que um hectare de floresta nativa pode render, em média, R$ 864,00 somente com os créditos de carbono por ano, mas como mencionado este valor pode chegar a R$ 5.400,00. Desta forma, quem possui uma área de 30 hectares de floresta preservada pode receber, em média, aproximadamente R$ 26.000,00 por estar preservando e contribuindo para a redução dos valores do dióxido de carbono na atmosfera e, consequentemente, amenizando os efeitos negativos das mudanças climáticas no nosso dia a dia.
Caso seja possível a utilização do programa Bolsa Verde juntamente com os créditos de carbono, o proprietário rural poderá receber, em média, aproximadamente R$ 1.100,00/hectare/ano. Um valor considerável frente as outras atividades, devido aos gastos elevados de insumos e operação que as demais atividades do campo necessitam.
Hoje temos os créditos de carbono, num futuro bem próximo podemos ter os créditos sobre a água produzida por estas áreas. Desta forma, a questão financeira é somente um dos diversos pontos positivos de conservar áreas de floresta nativa e para restaurar áreas que já foram degradadas.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA