*Eugênio Maria Gomes
Minha geração cresceu com muitas expectativas positivas em relação ao Século XXI. Uma “Nova era” de paz e prosperidade; o século das conquistas tecnológicas, da superação da miséria, da cura das doenças. Para os nascidos na segunda metade do século XX, o novo milênio traria um novo significado à jornada humana neste Planeta.
Embalados pelas melodias do Musical “Hair”, por “Imagine” de John Lennon e por inúmeras outras manifestações de esperança e confiança diante do novo século, acreditávamos que teríamos a oportunidade de vivenciar uma nova vida, de igualdade e de fraternidade entre os homens e de harmonização com o meio ambiente.
Mas não tem sido assim. Em setembro do primeiro ano do novo milênio, assistimos incrédulos ao maior ataque terrorista já realizado e a queda, cheia de simbolismo, de dois dos maiores edifícios já construídos pelo Homem, provocando a morte de milhares de pessoas e servindo de pretexto para o início de mais uma guerra sangrenta, com a consequente morte de milhares de pessoas, que fez aumentar ainda mais, o ódio e o desejo de vingança entre oriente e ocidente.
Hoje, o que vemos é desolador.
Na Europa Ocidental, milhares de pessoas estão desempregadas. A fragilidade econômica, provocada por uma crise sem precedentes, fez renascer a xenofobia, o nacionalismo e o separatismo, fantasmas que assombram aquele continente há séculos.
No Leste Europeu, russos e ucranianos guerreiam. No Sul Europeu, milhares de africanos desembarcam todos os dias na Sicília, na Grécia, na Espanha, fugindo da fome e da miséria de seus países.
Na África subsaariana, o vírus Ebola mata aos milhares. A AIDS prolifera, sem controle. Ditaduras sangrentas condenam à fome e à miséria absoluta milhares de pessoas. Tudo isso, passivamente assistido pelos países ditos “civilizados”.
No Oriente Médio, mais uma vez, judeus e palestinos se matam às centenas. No berço da civilização humana – antiga Mesopotâmia e atual Iraque -, ergue-se um Califado sangrento, que escraviza e que degola seus opositores.
Na Ásia Central, o crescimento demográfico sem controle e a busca pelo desenvolvimento econômico, a qualquer custo, faz com que ali se encontre a maior destruição dos recursos naturais já vista.
Aqui, bem aqui, ao nosso lado, a criminalidade aumenta a cada dia. Crimes brutais. Mata-se por nada! Mata-se no trânsito, mata-se nas escolas, nas festas. A corrupção generalizada firma-se cada vez mais na sociedade brasileira. O racismo se manifesta, sem pudor. A homofobia faz do Brasil um campeão em crimes de cunho homofóbico. Derrubam-se árvores sem o menor cuidado. Poluem-se os rios e mares, transformando-os em depósitos de lixo, com total normalidade.
Aqui, bem aqui, ao nosso lado, num país pródigo na produção de alimentos, milhares de pessoas passam fome. A sétima maior economia do mundo, ainda condena milhares de seus patrícios à morte, por falta de atendimento médico adequado; ainda condena uma grande parte de seus jovens a um futuro incerto pela falta de educação adequada; ainda condena parte de seus idosos ao desalento e ao abandono.
Aqui, bem aqui, ao nosso lado, vemos reproduzidos, em menor escala, os mesmos problemas que assolam toda a humanidade.
Todas essas mazelas humanas são explicáveis, recorrendo-se à História, à Política, à Economia, à Religião. Todas essas mazelas humanas se devem, na verdade, às mesmas causas. Causas que acompanham o Homem, desde que abandonou o Éden: Poder e Dinheiro!
Poder… Essa imbecil necessidade humana de conquistar, de subjugar, de escravizar, de explorar e de submeter o outro, normalmente aquele que é “diferente” aos seus desejos, aos seus caprichos e à sua dominância. É a necessidade de Poder que justifica guerras, invasões, agressões e humilhações àqueles que de alguma forma, estão em minoria, quantitativa ou social.
Dinheiro… Essa imbecil necessidade humana de lucrar, de acumular, de concentrar, de enriquecer. É o dinheiro, ou, a necessidade que temos dele, que justifica guerras, crimes, que estimula o consumismo desenfreado que degrada o meio ambiente e exaure os recursos naturais.
Nossas imbecilidades estão nos condenando ao desaparecimento, como espécie. Ameaçam nossa existência, individual e coletiva. Não é por outra razão, que os poderosos buscam, incessantemente, à custa de bilhões de dólares, outro planeta habitável. Eles sabem que se não houver uma reversão imediata dos paradigmas que alicerçam nossa civilização, nosso futuro estará seriamente comprometido.
Mas, a solução passa ao largo da colonização de outra “Terra”. Afinal, repetiremos lá os mesmos erros daqui. A solução se encontra numa profunda reflexão, inicialmente individual, e a partir daí, irradiando-se para a coletividade. Uma reflexão que nos leve a concluir que todos nós, nas nossas infindáveis diferenças, somos iguais. Que somos semelhantes, embora únicos.
Uma reflexão que nos leve a concluir que é possível o desenvolvimento sustentável, que é possível a repartição equânime da riqueza e que nada, nada justifica a exploração do homem pelo homem e a degradação irresponsável do Planeta. Assim, pode ser que revertamos esse atual estado de coisas, e que possamos, novamente, ter esperança num futuro melhor e superar esses tempos de escuridão…
* Eugênio Maria Gomes é professor, pró-reitor de Administração do Centro Universitário de Caratinga, membro da Academia Caratinguense de Letras, do MAC – Movimento Amigos de Caratinga -, do Lions Clube Caratinga Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.