Como nós sabemos, e também descrito nas publicações anteriores, as mudanças no clima já fazem parte do nosso dia a dia. Desta forma, neste domingo este colunista irá desenvolver a terceira parte da nossa discussão semanal que tratará sobre como tais mudanças podem afetar nosso dia a dia.
3 – Mudanças Ambientais Globais e nosso dia a dia
Antes de qualquer desenvolvimento do tema proposto é necessário determinar um ponto de partida e outro de destino. Desta forma, vamos determinar que o nosso ponto de partida seja o ano de 2015 e que o ponto de destino seja o ano de 2050, esqueçamos de tudo que já fizemos para “salvar” o planeta, se é que fizemos. Vamos focar no presente e naquilo que as previsões para o futuro nos indicam.
No ano passado, 2014, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) lançou um relatório que teve a colaboração de 309 cientistas de mais de 70 países, incluindo o Brasil. Neste relatório concluiu-se que as mudanças climáticas já afetam todo o nosso planeta, ou seja, nenhum país está livre destas mudanças. No mesmo relatório o IPCC adverte que a população e seus governantes são vulneráveis às mudanças no clima, ou seja, não estão se organizando para criar planos para adaptação às estas mudanças. Para nós é evidente que as mudanças estão presentes e já fazem parte do nosso dia a dia, entre tais mudanças podemos descrever a redução, ou destruição, das plantações, derretimento das geleiras, aparecimento e migração de doenças de outras para áreas e racionamento de energia, água e alimentos.
Entretanto temos que entender que as mudanças, além de modificar nosso dia a dia, estão afetando os ambientes naturais, como as florestas, rios e oceanos. Desta forma, os serviços ambientais de que tanto necessitamos para sobreviver podem, através destas mudanças, entrar em colapso. Ou seja, pode durante os anos passando por pequenas reduções até deixar de existir. Sendo assim, está claro também que como os ambientes naturais nós também estamos ameaçados, pois se tal colapso acontecer a produção de alimentos pode ser prejudicada. A redução das chuvas, por exemplo, é uma clara manifestação deste colapso que, por sua vez, resulta numa redução da produtividade das plantações e, consequentemente, numa baixa oferta de alimentos para a população. Tais mudanças podem resultar em migrações em massa e no surgimento de conflitos, alterando as relações das sociedades.
Temos nas mãos um ponto de partida, ano de 2015, e um ponto de chegada, ano de 2050. Nós temos que entender que as mudanças futuras serão determinadas basicamente das nossas atitudes atuais. Desta forma, o IPCC descreve algumas previsões para o do nosso planeta. Estas previsões futuras são divididas entre as pessimistas e não-pessimistas, ou seja, entre graves e não-graves. Entretanto, em todas as previsões são observadas a existência das mudanças no clima atual, que eventos de secas prolongadas ou chuvas fortes serão mais comuns resultando em impactos negativos na produção de energia e alimentos, que por sua vez podem resultar em impactos negativos na saúde da população. Tem-se que se as nossas atividades continuarem como estão, seguindo o mesmo ritmo, os preços dos alimentos podem subir até 85% até 2050.
Em 2012, quando participei do RIO+20, quando conversava com o representante do Ministério da Agricultura de Moçambique, percebi que países mais pobres, ou que estão passando por crises políticas como o Brasil, sentirão um maior impacto sobre sua economia em virtude das desigualdades sociais e das falta de investimento em planos de adaptação para a sua população. Entretanto, como a mudança é global e nenhum país irá escapar destas mudanças.
Entretanto vamos focar no nível local de vulnerabilidade e adaptação. Você, que é um cidadão consciente, sabe de algum estudo de vulnerabilidade e adaptação às mudanças climáticas para a sua cidade ou, mesmo, para a sua região? Se não tem ainda esta informação, você como cidadão teve o dever de eleger seus representantes e agora tem o direito de ter estas informações. Caso queira saber de tais estudos vá até a secretaria de meio ambiente da sua cidade e procure sobre as ações da sua cidade para reduzir os impactos das mudanças climáticas no seu dia a dia e quais medidas ela adotará em eventos de crises. Entretanto, se sua cidade não possuir um planejamento robusto, cobre de seu representante as devidas mudanças.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA