No alto da Serra, há uma nascente. Um pequeno fio de água límpida e cristalina, cercado por vegetação nativa. Às vezes, também acontece de o fio de água se sujar imediatamente após brotar da terra, seja pela precoce atuação do homem ou, até mesmo, pelo fato de ser usado para saciar a sede dos animais que povoam a área em seu entorno. Depois de percorrer algumas dezenas de metros, outros dois pequenos fios de água se juntam ao primeiro e, assim, sucessivamente, até que todo o percurso entre o “pé da serra” e o ponto original do pequeno veio d’água seja percorrido.
Na baixada, o pequeno filão de água ganha os dejetos do primeiro lugarejo por que passa e, consequentemente, tem o seu volume aumentado, assim como a sua cristalinidade e limpidez, diminuídas. E, na sequência até encontrar o riacho, o córrego ganha pequenas quantidades de água, sucessivas, provenientes dos vilarejos por onde vai passando.
O riacho percorre muitas terras, passa por muitas plantações, lavouras e por pequenos povoados. E, em cada ponto de incidência desses pequenos lugares, ganha cada vez mais despejos de água, lama e esgoto. E é assim que deságua em um pequeno canal, descendo em direção a uma sequência de pequenas cidades. Em cada uma delas, vai ganhando volume e, claro, sujeira… Muita sujeira.
Em pouco tempo, o pequeno fio de água, nascido lá no alto da serra, se transforma em um grande rio, caudaloso, fedorento e, às vezes, destruidor. E é nessa condição que vai se juntando aos outros rios, cada vez maiores, até despejar toda a sua sujeira no mar, tornando parte de suas áreas inapropriadas para banhos e ajudando a matar boa parte de sua vida marinha.
Quem é o culpado pelo triste resultado dos resíduos jogados no mar? Do homem que não cuidou da nascente? Do animal que contaminou a água ao matar a sua sede? Dos pequenos vilarejos sem infraestrutura sanitária e dos trabalhadores da roça com a sua falta de cuidado no uso do solo? Do descaso das autoridades com o esgotamento sanitário das cidades que governam?
Todos nós temos nossa parcela de responsabilidade, nossa parcela de culpa, mas, sem dúvida alguma, as cidades maiores, com suas populações, desprovidas dos necessários cuidados com o meio ambiente, acabam por contribuir mais para a péssima condição apresentada pelos nossos rios, ao seu final.
Esta semana, ouvi da nossa Presidente da república que se o governo FHC tivesse coibido o roubo na Petrobrás, seu partido não teria se beneficiado das centenas de milhões de reais surrupiados da empresa…
Ora, quer dizer que se o animal não sujar a água ou se o homem não secar a nascente com o seu desmatamento desenfreado, as populações ao longo do rio não o sujariam, transformando-o em esgoto a céu aberto?
Sinceramente, nunca ouvi tamanho disparate. Nada justifica o que esse bando de desonestos fizeram, não apenas com a Petrobrás, mas com grande parte do patrimônio do povo brasileiro. O povo vivendo com dificuldade com o salário que recebe e essa turma falando de propina de milhões, como quem fala de um ingresso para um jogo de futebol?
É claro que a corrupção esteve presente, em vários governos. Que tudo seja apurado e que todos os envolvidos sejam punidos, seja lá de que partido forem. Mas, buscar justificativa no roubo de outros para vilipendiar a nação, parece-me uma perfeita confirmação da falta de bom senso.
No entanto, assim como os defensores do partido governante deviam procurar enxergar um pouco além de sua cega ideologia, os que defendem outros partidos precisam tomar cuidado com o telhado de vidro.
Ambos, apoiadores e opositores, precisam enxergar o que me parece indiscutível: assim como acontece com os rios, também a política brasileira está impregnada de uma sujeira ambidestra, proveniente do centro, da esquerda e da direita.
Estamos mesmo precisando passar o Brasil a limpo! Precisamos transformar nosso País num Estado eficiente, probo e digno. Porém, toda grande mudança, começa com pequenas mudanças. Assim, todos nós temos que fazer a nossa parte: sermos também dignos, probos e honestos!
* Eugênio Maria Gomes é escritor e professor.