Em entrevista ao DIÁRIO, diretor-presidente do Banco Cooperativo do Brasil fala sobre o cenário nacional e o crescimento das cooperativas de crédito de Caratinga
A missão é “gerar soluções financeiras adequadas e sustentáveis, por meio do cooperativismo, aos associados e às suas comunidades”. Como define em seu institucional, o Banco Cooperativo do Brasil S.A. – Bancoob é um banco múltiplo privado especializado no atendimento a cooperativas de crédito, cujo controle acionário pertence a entidades filiadas ao Sicoob. Seu trabalho é orientado para manutenção de um relacionamento estreito, cordial e transparente com as cooperativas, satisfazendo suas necessidades e buscando a melhoria contínua de processos.
E esse relacionamento tem se mostrado sólido e com resultados extremamente positivos. O balanço do exercício de 2016 do Sicoob demonstrou um aumento de 7,2% no resultado financeiro. A marca contabilizou R$ 2,55 bilhões contra R$ 2,38 bilhões em 2015, já os ativos totais somaram R$ 76,3 bilhões, um crescimento de 32,5% em relação ao ano anterior. O patrimônio líquido alcançou R$ 16,4 bilhões, um incremento de 18,2% ante R$ 13,8 bilhões registrados em 2015. No período, as operações de crédito apresentaram variação positiva de 15,4%, passando de R$ 33,3 bilhões para R$ 38,4 bilhões. A taxa média de juros praticada pelas cooperativas do Sicoob no crédito pessoal foi de 2,27% ao mês (30,91% ao ano), enquanto no mercado a média foi de 3,65% ao mês (53,75% ano ano).
Para falar sobre os resultados alcançados pelo cooperativismo em todo o País, especialmente na cidade de Caratinga, o DIÁRIO DE CARATINGA traz uma entrevista com o diretor-presidente do Bancoob, Marco Aurélio Borges de Almada.
Segundo Almada, a atuação em Caratinga ilustra o papel do Sicoob como protagonista na inclusão bancária: “O trabalho e o crescimento das duas cooperativas são impressionantes”, referindo-se ao Sicoob Credcooper e ao Sicoob Credileste.
Qual o papel do Bancoob junto às cooperativas de crédito?
O Bancoob nasceu da necessidade das cooperativas de autonomia operacional, economia de escala e, principalmente, acesso ao sistema financeiro nacional. E é uma plataforma de agregação de competitividade para a cooperativa, pois geramos soluções financeiras, tanto para as cooperativas quanto para os cooperados, e isso impacta diretamente a forma das cooperativas de fazerem negócios.
Como consequência, o Banco busca o desenvolvimento do cooperativismo financeiro no país e nas comunidades de atuação das cooperativas atendidas.
Quais os pontos marcantes que diferem a gerência de um banco privado a uma cooperativa de crédito?
A cooperativa existe para corrigir as distorções de mercado já tão conhecidas. Hora são os preços abusivos; hora o atendimento é inadequado; hora faltam de pontos de atendimento. Todos esses pontos são tratados através da participação ativa dos cooperados na administração da instituição, pois são clientes e donos ao mesmo tempo.
Outra função importante das cooperativas de crédito é dinamizar a economia local através do aumento da circulação de recursos financeiros na região de atuação da cooperativa.
Pelo ponto de vista da pessoa física, qual a vantagem de deixar de ter conta em um banco tradicional, para ter conta em uma cooperativa?
Além dos benefícios comerciais, como menores taxas e tarifas e serviços mais baratos, o cooperado também participa da distribuição de resultados, que ocorrem com base na movimentação e não no capital. Nesse caso, quanto mais transações comerciais a cooperativa efetua, maior será seu resultado financeiro, e o cooperado receberá esse lucro proporcionalmente ao aporte de capital realizado.
Dentre as 50 maiores instituições financeiras mundiais, cinco são bancos cooperativos: o Rabobank holandês, o China Construction Bank, o Agricultural Bank of China, o Bank of China e o alemão DZ Bank. Já no Brasil, apesar do crescimento, as cooperativas ainda representam apenas 3% do sistema financeiro. Quais são os desafios e estratégias para alavancar esse crescimento por aqui também?
Seria injustiça comparar a história centenária da economia europeia com uma experiência jovem como a nossa, que teve seu reinício nos anos 90. O importante é observar que o Sistema Nacional de Cooperativismo de Crédito (SNCC) cresce a taxas de 20% a.a., enquanto o Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresce apenas a 5%a.a. Estamos no caminho certo!
Como as cooperativas sobreviveram em meio à crise da economia brasileira dos últimos anos?
Para essas adversidades, desenvolvemos um modelo de negócios dinâmico, sólido e competitivo que permite as cooperativas continuarem a atuar com foco no seu cooperado e no desenvolvimento econômico da região em que estão inseridas. Atender as necessidades de seu público inclui ofertar produtos e serviços a um menor custo e ainda ser capaz, administrativamente, de gerar sobras para serem distribuídas entre seus cooperados. Também destaco o atendimento personalizado, que é característica do cooperativismo. Tudo isso acontece dentro de um ecossistema que conta com regras, controles e tecnologia. Esse pacote de soluções faz com que o cliente opte por ficar conosco, mesmo em tempos de crise, e demonstra como o nosso ecossistema é resiliente.
Hoje o sistema Sicoob, por intermédio do Bancoob financia mais de R$ 10 bilhões de reais para o agronegócio brasileiro. Qual tem sido a representatividade deste setor na economia brasileira?
O crédito rural está em nossa origem, e garantir linhas de crédito para o atendimento das necessidades dos cooperados é compromisso permanente do Bancoob. Para isso, atuamos fortemente no mercado interbancário captando recursos de um conjunto de bancos parceiros; valemo-nos dos mecanismos de equalização de taxas (diferença entre custo de captação e as taxas de aplicação de recursos de nossos próprios cooperados) providos pelo Tesouro Nacional; dispomos da Poupança Rural em parceria com as cooperativas e oferecemos a opção das letras de crédito do agronegócio (LCA), entre outras fontes.
Inúmeros foram também os avanços em nossos processos, de modo que hoje conseguimos responder com agilidade e qualidade os pleitos encaminhados pelas nossas cooperativas.
Permanecermos sempre atentos às mudanças de cada ciclo produtivo, para manter as cooperativas em condições de atender integral e tempestivamente às demandas financeiras dos seus cooperados.
Caratinga conta com o Sicoob Credcooper e o Sicoob Credileste. Como tem sido a atuação destas cooperativas para Caratinga?
O trabalho e o crescimento das duas cooperativas são impressionantes. Em 2016 a Credcooper ampliou sua base de associados em 12% de pessoas jurídicas (PJ) e 6% de físicas (PF). No mesmo período a Credileste cresceu 11% e 15% em associações de PJ e PF. Esse alto crescimento é notável em um período de retração da economia, pois reforça o papel do Sicoob como protagonista na inclusão bancária no país.
Entre 2013 e 2016 a Credcooper cresceu 84% em volumes de ativos e a Credileste praticamente duplicou seus ativos com 96% de crescimento. No mesmo período a economia brasileira esteve em retração. Já o resultado final da operação da Credcooper cresceu 233% no período, demonstrando como a administração está alinhada em gerar mais resultados aos seus cooperados, fortalecendo a economia de Caratinga e região.
O esforço das cooperativas em fidelizar os associados é percebido pelo volume de produtos que estes utilizam. Em geral, além da conta capital os associados utilizam dois outros produtos dentre uma cesta que trabalhamos constantemente para ampliar. É importante destacar que a utilização de produtos pelos associados não é bom só para as cooperativas de Caratinga, mas para toda a comunidade regional. Os recursos que os associados investem nas cooperativas permanecem na comunidade, visto que o resultado das operações, ou sobras, volta para os associados em descontos nos produtos que utilizam ou em divisões ao final do exercício.
O maior Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil, Sicoob, finalizou 2016 com 18,2% de crescimento em patrimônio líquido. Como está a esta atuação no interior?
O nosso foco continua sendo o interior e o desenvolvimento da região em que a cooperativa atua. Um bom exemplo disso é a presença de 65% dos pontos de atendimento Sicoob estão no interior (ante 35% que são localizados em capitais e regiões metropolitanas).
Como citei anteriormente, as cooperativas corrigem três distorções do sistema bancário: preços altos, vendas forçadas, atendimento frio e falta de pontos de atendimento no interior. O problema de falta de pontos de atendimento dos bancos tradicionais até nos beneficia nos tornando fundamentais para a comunidade.
O Sicoob Credcooper de Caratinga realizou no ano passado, sua primeira Feira de Negócios Agropecuários, da qual o senhor esteve presente. Qual a importância deste tipo de evento para a economia local?
A iniciativa da cooperativa em organizar a FENASC é meritória e demonstra o seu compromisso com sua base de atuação. Esse é um diferencial incrível e tem tudo a ver com o 7º princípio cooperativo – interesse pela comunidade –, que é um exemplo dos diferenciais das cooperativas em relação aos bancos.
A segunda edição já está agendada para os dias 24, 25 e 26 de agosto. O senhor estará presente novamente?
Estarei sim. Inclusive, no dia 25/8 palestrarei às 10h sobre o Cenário Econômico.
Quais são suas considerações finais?
Estamos empenhados no desafio de promover a transformação digital das cooperativas de forma a mantê-las compatíveis com as tendências de mercado.
Além disso, estamos disponibilizando fundos de investimento diretamente para o cooperado e estruturando a carteira de câmbio. Também, estamos ampliando os canais de acesso digitais – novo modelo de interação do negócio bancário –, objetivando a perenidade do cooperativismo financeiro.
Em uma visão mais ampliada, os desafios futuros estão em manter a pessoalidade do atendimento, característica fundamental do cooperativismo, em um ambiente altamente digital. Nosso papel é traduzir as possibilidades tecnológicas em atendimento humanizado, pois o vínculo humano não pode ser perdido.
Já conseguimos romper a primeira barreira com o lançamento do aplicativo Sicoob Faça Parte, onde é possível realizar a associação a uma cooperativa de forma totalmente digital e simples. Também expandimos a família de aplicativos Sicoob que agora são: Sicoobnet, Sicoobcard, Sicoob Mapas, Sicoob Minhas Finanças, Sicoob Faça Parte, Sicoob Conta Fácil, Cabal Benefícios e Revista Sicoob. Isso torna o Sicoob acessível a todos as pessoas que tem um smartphone.
Os associados contam ainda com sítios como o www.sicoob.com.br onde podem acessar os serviços e produtos que oferecemos, além da nossa presença nas mídias sociais. Estamos, por exemplo, no Facebook com o perfil @sicooboficial onde é possível acompanhar as novidades do Sistema Sicoob, assim como temas relacionados ao cooperativismo.
Marco Aurélio Borges de Almada
É administrador de empresas com MBA Executivo em Finanças pelo IBMEC. Fez especializações em Gestão Estratégica de Custos pela Oklahoma Baptist University, nos EUA, e Monitoria e Avaliação de Projetos pela Inwent, na Alemanha. Com mais de 30 anos de atividade profissional, foi superintendente da Confederação Nacional do Sicoob e Diretor do Fundo Garantidor do Sicoob (FGS). Desde março de 2009, é Diretor-Presidente do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).