A centenária Olinda Maria vive saudável e feliz, sendo uma das moradoras símbolo do Bairro Santa Zita
CARATINGA –Em uma casa simples da Rua Francisco Alves, no Bairro Santa Zita, em Caratinga, vive dona Olinda Maria Sales, que completou 100 anos no dia 1º de novembro de 2016. Ela é uma das pessoas mais conhecidas do bairro, onde vive há décadas, e essa entrevista é uma forma de homenagear todos que ali vivem.
A sala da residência de dona Olinda é sua apresentação: pela parede quadros com imagens do Papa João Paulo II, Padre Marcelo Rossi e uma reprodução da Santa Ceia, de Leonardo da Vinci. O som do rádio ecoa pela casa e ela ouve a ‘Novena do Pai Eterno’. A Bíblia aberta justamente no Salmo 91 sinaliza algo, afinal este salmo se encerra com o versículo ‘Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação’. Enquanto isso na cozinha, dona Olinda Maria prepara seu desjejum: um pão assado na panela, mas ela só come a casca, pois o miolo faz mal, conforme ensinou o seu médico. O café já a espera à mesa. O relógio novo na
parede derruba por terra a máxima de Mário Quintana, “O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família”. Então, se o objeto é novo, ele não tem ainda essa ferocidade.
O corpo franzino contrasta com sua força de viver. Dona Olinda Maria vive saudável e feliz com sua idade centenária. “Acordo cedo todos os dias, mas gosto de ficar na cama. Depois eu me levanto e vou ‘assistir’ rádio. É o meu passa tempo. Também assisto missas na televisão; sou muito católica. Só não arrumo a casa porque minha filha não deixa”, frisa.
Ela não atribui a genética toda essa longevidade. “Não sei de casos em minha família de pessoas que viveram tanto tempo. Acho que estou aqui até hoje (risos) porque nunca fui de me preocupar com as coisas. Sempre fui responsável, mas não de perder noites de sono. Sei que Deus sempre nos ajuda. E nunca fui de exagerar com a comida. Tendo uma verdurinha e um angu já tá bom demais (risos). Quase não como carne. Regro a boca mesmo”.
Dona Olinda nasceu na zona rural de Caratinga. Casou-se aos 17 anos com Omário Ângelo. Desta união nasceram oito filhos. Ela admite que perdeu a conta do números de netos, bisnetos e tataranetos. “Nos conhecemos naquilo que hoje vocês chamam de ‘forró’, mas eu chamava de baile. As famílias se reuniam para dançar. Assim conheci o meu marido”. Segundo ela, Omário faleceu há mais de 40 anos.
As pessoas sempre esperam que ela tenha muitas histórias para contar, mas dona Olinda Maria se mostra simples. “O que eu vou dizer, nasci e cresci na roça. Casei-me, tive filhos, enviuvei-me. Sempre fui dona de casa. Não tenho muito para contar, mas agradeço por tudo que vivi”, diz juntando as mãos como se estivesse fazendo uma oração.
E dona Olinda Maria é uma referência em sua rua. Uma vizinha conta que ela é paciente e conselheira. “Pessoa muito agradável. Mulher sábia”, declara. “A festa dela dos 100 anos foi linda”, complementa outra vizinha, dizendo que esperar chegar a essa marca. “Espero ser abençoada e viver tanto tempo e bem”.
DADOS DO IBGE
E os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram como é raro de deparar com uma pessoa igual a dona Olinda Maria. Caratinga conta atualmente com apenas 18 pessoas que atingiram a idade centenária. Isso num universo de 91.342 habitantes, conforme o último censo demográfico.
“Já recebi homenagens. Mas a maior homenagem é viver bem com todo mundo. Não guardo mágoas, isso estraga a vida da gente. Fico aí nesse mundo de meu Deus até quando Ele quiser. Sou feliz, vi meus filhos crescerem, brinquei com netos, bisnetos e tataranetos. Só posso dizer que sou uma mulher abençoada. O que eu poderia querer mais?”, finaliza dona Olinda Maria, juntando novamente as mãos em agradecimento, trazendo-nos mais uma vez a lembrança de Mário Quintana: “Todos esses que aí estão, Atravancando meu caminho. Eles passarão…Eu passarinho!”.
*Essa entrevista foi uma colaboração do equipe do jornal Diário de Caratinga para a revista Conceito, de Governador Valadares.