“Capital do sudeste mineiro, das cidades da Mata a primeira, deste Vale feraz do Rio Doce, és princesa, és rainha altaneira!”
Nascido em Matipó, eu cheguei a Caratinga aos quatro anos de idade, há exatos dois anos antes do golpe militar de 1964, portanto, cresci acompanhando o sofrimento das famílias Leitão, Sena, Schetinno, Almeida, Cindra e Vale por conta da perseguição da ditadura aos seus filhos, que lutavam por liberdade. Aportamo-nos no Bairro Limoeiro, numa época em que a BR 116 estava em fase final de asfaltamento e a grande fazenda dos Penas emoldurava a paisagem daquele brejão, no meio do qual corria um córrego cercado de taboas. Um tempo em que o acesso ao centro da cidade era feito por uma trilha, em um pasto, morro acima, transformado na atual Avenida Moacir de Mattos. Ali, no “Bairro dos Penas”, passei toda a minha infância e a minha adolescência. Momentos felizes que trago na lembrança e que, jamais, se apagarão.
Momentos que fortalecem o sentimento em meu peito de que, mesmo não sendo filho dessa terra, eu sou Caratinga.
Sou Caratinga porque vi o Bairro Limoeiro crescer e mudar de nome, o Bairro Floresta nascer ao lado da antiga cooperativa, o antigo prédio da Escola Estadual Menino Jesus de Praga ser ocupado por um Centro Universitário, uma borracharia se transformar em rodoviária e surgir a grande avenida que conduz à Paróquia de São Judas Tadeu. Sou Caratinga porque tomei gosto pela Leitura e pela Escrita através da mãe-professora Agripina, porque cantei “Menino Jesus, querido” no pátio, com a Irmã Ana Lúcia, porque fui à casa da professora Dora Bomfim e ensaiamos “Certa vez de montaria, eu desci o Paraná”, ao piano, com a professora Lúcia.
Sou Caratinga por conta de cada Mês de Maria vivido na igrejinha do Sr. José Nadim e da D. Leontina; das animadas conversas com o Sr. José Alves, pai da professora Geralda Rocha; das visitas ao Sr. Neguinho e à D. Petita; das brincadeiras diárias com Francisquinho, Fabinho, Paulinho, Isabel, Terezinha, Júlio, Urlênise, Tim, Lúcia, Joy, Thaís, Jackson, Regina, Márcia, Lena, Marinêz, Ricardo e tantos outros. Sou Caratinga porque bebi água da mina da casa do Sr. Joaquim Dutra e da D. Maria; porque tomei café com chocolate na casa do Sr. José Quiquita e da professora Helena, chupei manga do quintal do Sr. Hélio Pena, peguei cajá na porta da casa da Fátima e comi o frango ensopado na casa do Sr. Clemente…
Sou Caratinga porque cresci admirando a carreira de Ziraldo, comemorei o relançamento da “Turma do Pererê”, em 1970, e do livro “Menino Maluquinho”, dez anos depois; porque vi minha mãe comemorar o lançamento do álbum “Obrigado Querida”, do nosso ídolo Agnaldo Timóteo e nos alegramos quando a canção “Meu Grito” ficou em primeiro lugar em todas as rádios do país. Sou Caratinga porque conheci o Sr. Jair quando o seu filho Paulo Vieira era um garoto e vi os primeiros trabalhos do Marquito, marido da Cizinha…
Sou Caratinga porque convivi com os filhos do Sr. Parreira, da D. Ricarda, do Zequinha, da D. Mência, da D. Emília, da D. Geralda, do Sr. Joaquim, dos “Joões” e “Marias”, do bairro e do centro; porque estive na Rua dos Viajantes, encostado nos automóveis, enquanto as meninas desfilavam; porque aprendi as primeiras letras com o John Pena, enquanto ele ensinava à minha irmã Geraldinha… Sou Caratinga porque participei das quadrilhas comandadas pela D. Édna, porque ajudei a “bater” a laje da igrejinha do bairro, porque convivi com a turma do PSIU, porque vendi salgados no posto Caratinga e assisti à primeira coluna de sustentação do Santuário novo ser erguida…
Sou Caratinga, porque chorei com a morte de amigos, de familiares de amigos e, na cidade, sofri com o sepultamento dos meus pais, irmão, esposa, tios, avós e primos. Sou Caratinga porque o “Seu” Bento e a D. Idalina assim nos criou, a mim e a meus irmãos, como filhos dessa cidade querida. Sou Caratinga, porque peguei “xistosa” no Rio Caratinga e fiz serenata em suas casas, em suas ruas…
Sou Caratinga… Sou a cidade de Ruy Castro, Zirado, Agnaldo, Miriam Leitão, Flávio Anselmo, Mayrink, Marilene Godinho, Max Portes, Edra, Camilo Lucas, Paulo Vieira, Sthael Abelha, Monir Saygli, Monsenhor Raul, Zélio e tantos outros. Cidade das Palmeiras, da Itaúna, das Faculdades, das Igrejas, das Maçonarias, das Instituições Sociais e Culturais, das Empresas, do Comércio e dos Clubes de Serviço. Sou a cidade da Imprensa, das Rádios e das Televisões… Sou a cidade da Fé e do Café!
Mais que Cidadão Honorário da cidade, eu sou Caratinga! Sim, porque, aqui, criei os meus filhos, crio os meus netos, escrevo os meus livros, ministro as minhas aulas, desenvolvo os meus projetos, professo a minha fé, admiro a sua gente e brigo se falam mal dela. Sou Caratinga porque acredito em seu potencial, na sua capacidade de se reinventar, de ser próspera e feliz para os seus filhos – naturais e adotados -, porque desejo que ela seja, sempre, um bom lugar para se viver.
Sou Caratinga porque sempre a amarei como o fazem os seus filhos.
Sou Caratinga! E sempre haverei de lutar por seu feliz porvir!
“…. Nos terrenos instáveis do tempo / Só uma planta, o trabalho, é que vinga! / Trabalhemos irmãos para que a História / Possa um nome guardar: Caratinga”.
- Eugênio Maria Gomes é professor e pró-reitor do Centro Universitário de Caratinga. Diretor da Unec TV e apresentador de programas nas TVs Super Canal, Sistec, Unec e Três Fronteiras. Presidente da AMLM – Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas e membro das Academias de Letra de Caratinga e Teófilo Otoni. Membro do MAC – Movimento Amigos de Caratinga, do Lions Clube Caratinga Itaúna, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.