Depois de um período em baixa, a Disney conseguiu levantar novamente o gênero da animação na década de 90, com clássicos como “Aladim” e “Rei Leão”. O estúdio faz outros grandes sucessos ao longos dos anos reinventando seus clássicos. Outro grande estúdio, a Pixar, começa a fazer sucessos de bilheteria como “Toy Story”, surgindo uma das primeiras e grandes franquias desta retomada. A animação entrou nos anos 2000 tendo que se reinventar mais uma vez para não cair nos clichês do gênero e conseguir que tanto crianças quanto adultos consigam gostar e se divertir com a trama, uma vez que estava evidente o número crescente de pais que não queriam apenas levar seus filhos para assistir e sim acompanhar com satisfação uma história interessante e que também seria edificante para eles. Segue abaixo algumas das melhores animações feitas no século 21, visando exatamente essa característica.
UP: ALTAS AVENTURAS
EUA/2009
De Pete Docter / Bob Peterson
Com Edward Asner, Christopher Plummer, Jordan Nagai, Bob Petersen
Carl Fredricksen é um quase octagenário que passou a vida inteira ao lado de Ellie, sua esposa, em que ambos compartilhavam o sonho de viajar para as Cataratas do Paraíso, localizadas na América do Sul. A viagem tinha sido feita por um aventureiro que se tornou herói para eles. Com a morte da esposa, Fredricksen decide espantar a monotonia do cotidiano e decide trilhar a aventura que ela tanto queria fazer. E para isso vai contar com a ajuda de um garoto rumo ao desconhecido, utilizando como meio de transporte sua própria casa, carregada por vários balões.
A animação indicada a 5 Oscars, incluindo Melhor Filme, traz uma história emocionante. Os elementos de drama são bastante fortes para um filme infantil, o que de alguma forma é responsável por agradar também aos adultos. Mas logicamente o humor está presente, com cenas impagáveis, como o duelo entre o protagonista e o vilão da trama.
“Up” demonstra que a animação pode ser alçada a novos caminhos e que esse gênero está cada vez mais tendendo a ter que agradar os dois públicos, por visões até mesmo comerciais (afinal os pais que levam seus filhos ao cinema também querem se divertir!). Pete Docter, roteirista de WALL-E, acertou a mão novamente. Merecidamente premiado, “Up” não é apenas diversão descerebrada, mas um filme para se ver e relembrar.
MEU MALVADO FAVORITO
(Despicable Me)
EUA/2010
De Pierre Coufin e Chris Renaud
Com Steve Carell, Jason Segel, Russel Brand, Julie Andrews
Depois de um criminoso chamado Vector conseguir chamar a atenção do mundo roubando uma pirâmide do Egito, Gru precisa se afirmar como grande vilão e para isso planeja roubar a lua. Porém, tudo se complica quando ele precisa cuidar de três crianças endiabradas.
Esse grande sucesso de público e crítica de 2010 mostra um vilão no papel de astro principal do filme. Essa transgressão das regras clássicas da animação mostrou criatividade e rendeu ótimas e diferentes piadas. Ainda mais, aliado ao carisma do personagem principal, Gru, um vilão falido, que precisa provar pra ele mesmo que ainda tem competência naquilo que ele mais sabe fazer.
O filme ainda tem outros trunfos. O trio de crianças que entram na vida de Gru, transformando pra sempre sua personalidade e tentando puxar um pouco o lado paizão do personagem. Esse contraste entre o seu lado pai e o seu lado mau é valorizado a todo momento, criando situações hilárias. A mãe de Gru e o dono do banco que pode patrocinar crimes também aparecem, para mostrar que tanto o lado pessoal quanto o profissional de Gru não são lá muito valorizados. Apenas o Dr. Nefário parece sempre ficar ao lado do vilão.
Porém, quem mais chama atenção na animação são os minions! As criaturas amarelas e caóticas que ajudam Gru são os seres mais hilários criados atualmente. Tanto que após o filme, já viraram objetos de marketing, arraigando-se na cultura pop moderna. Os minions, que eram pra ser meros coadjuvantes, roubam a cena toda vez que aparecem.
“Meu Malvado Favorito” ainda por cima tem ótima trilha sonora, recheada de gêneros dançantes, como o rhythm and blues. Simplesmente uma das melhores franquias da nova geração da animação.
DIVERTIDA MENTE
EUA/2015
De Pete Docter e Ronaldo Del Carmen
Com Amy Poehler, Bill Hader, Lewis Black, Diane Lane, Kyle MacLachlan
Depois que Riley se muda para São Francisco, suas emoções, representadas pela Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo, tentam aprender a como lidar com as mudanças na nova cidade, assim como na casa e na escola.
Em meio a tantas produções que repetem fórmulas ou simplesmente lançam continuações de franquias ou personagens de sucesso, a Disney (ela mesma uma utilizadora de fórmulas) apresenta uma das animações mais criativas dos últimos tempos. Tendo como ponto de partida o que uma mudança de casa pode acarretar na cabeça de uma criança, o filme apresenta todo um universo dentro de um cérebro.
Com essa inusitada e interessante premissa, o espectador acompanha o funcionamento de emoções, lembranças, memórias e toda a engrenagem que possibilita a criação da personalidade e comportamento de uma pessoa. Para as crianças, temos uma divertida saga em busca de memórias base perdidas por causa de Tristeza, uma espécie de patinho feio que só faz coisas erradas e que ainda busca sua importância em toda a engrenagem.
Toda a metáfora da história criam camadas que deixam o filme com ar de animação adulta, porém sem perder o fio condutor da saga, que agradam em cheio às crianças. O principal trunfo dos criadores de “Up: Altas Aventuras” é exatamente esse: mesclar gêneros de animações que às vezes parece tão distintos, e conseguir agradas aos dois públicos.
“Divertida Mente” ainda dá brecha para continuações que realmente fazem sentido existir e não necessariamente sejam apenas para ganhar mais dinheiro.
Warny Marçano é blogueiro do WCinema (www.wcinema.blogspot.com), composto por resenhas de filmes e notícias em geral da sétima arte.
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