Após poucos mais de dois anos da tragédia, Leonardo Tavares sentará no banco dos réus. Família da vítima clama por Justiça
CARATINGA- Leonardo Tavares Silveira, acusado de matar Lourdes Maria Miranda Costa, irá a júri no dia 6 de julho, às 9h, no Fórum Desembargador Faria e Sousa. Ele foi pronunciado porque, segundo a denúncia do Ministério Público, o crime teria ocorrido por “motivo torpe” e valendo-se de “meio cruel” e mediante recurso que “dificultou a defesa da vítima”. O juízo entendeu presentes os indícios da autoria e a prova da materialidade e pronunciou o acusado pelo delito do artigo 121, § 2º, I e IV, do Código Penal, com a qualificadora prevista no artigo 121, § 2º, III, do Código Penal.
ACUSAÇÃO
De acordo com o que narra a denúncia do Ministério Público (MP), no dia 17 de maio de 2015, por volta das 22h, no Córrego São Roque, na antiga casa de prostituição denominada “Marilack”, Leonardo “deferiu um golpe de canivete na região do tórax”, contra a vítima Lourdes Moreira Costa Miranda. Consta ainda que, durante luta corporal com Elen Maria Miranda Costa, filha de Lourdes, “ofendeu a integridade corporal dela, lesionando-a no dedo com o canivete e no braço esquerdo com uma mordida”.
Já o segundo denunciado, José do Carmo Tavares Filho teria constrangido José Miranda Júnior, marido de Lourdes, mediante violência, “a não fazer o que a lei permite, impedindo, por certo momento, que a vítima Lourdes Moreira fosse socorrida após ter sido esfaqueada pelo primeiro denunciado”.
Ainda segundo apurado pelo MP, Leonardo na companhia de José do Carmo e outros dois envolvidos, utilizando o veículo Corsa Classic, conduzido pelo segundo denunciado, foram até o Córrego São Roque, na antiga casa de prostituição denominada Marilack. Chegando ao local, eles teriam entrado pelo portão, momento em que se depararam com outro veículo, um Fiat Palio ELX ocupado por José Miranda; a vítima Lourdes, as filhas Elen e Bianca, o marido de Elen e netos.
A família esteve no local para deixar Bianca e os filhos que residiam no local há dois anos, sendo que “o lugar era casa de família”. José Miranda teria saído do carro e advertido os denunciados e os demais ocupantes do veículo Corsa Classic, de que ali não mais funcionava como casa de prostituição determinando que saíssem do local, “momento em que se iniciou uma discussão generalizada”.
Neste momento, a vítima Lourdes teria entrado no veículo Fiat Palio, locomovendo-o para frente e voltado ao local onde estaria ocorrendo a confusão, sugerindo aos denunciados e os outros ocupantes do Corsa Classic que saíssem dali vez, uma vez que com a locomoção do Fiat Palio, havia espaço para que o veículo passasse e fosse embora, procurando evitar uma briga. “De maneira inesperada, o primeiro denunciado, na posse de um canivete de sua propriedade desferiu um golpe fatal, na região do tórax, contra a vítima Lourdes, que não estava oferecendo qualquer ameaça ou perigo para o acusado, estando tão somente pedindo para que os mesmos saíssem da residência”, narra a denúncia.
Com intuito de cessar a agressão, Bianca, o seu marido, Rhuandello Guingo; José Miranda Júnior e Elen Miranda entraram em luta corporal contra Leonardo, que “lesionou Elen Maria no dedo com o canivete e no braço com uma mordida”.
José Miranda Júnior, ao perceber que sua esposa estava gravemente ferida, lhe carregou até o interior do seu veículo, momento em que, José do Carmo teria entrado no carro impedindo “de forma exaltada e agressiva”, que se prosseguisse com o socorro da vítima, sendo necessária a intervenção de Rhuandello, que de posse de uma foice “ordenou que o segundo denunciado saísse do veículo para que a vítima fosse socorrida”.
A defesa não questionou a materialidade do delito, que “restou provada nos autos”. Porém o acusado, em sua autodefesa, nega sua autoria no crime.
RECONSITUIÇÃO DO CRIME E VERSÃO DO ACUSADO
No dia 27 de maio de 2015, Leonardo precisou voltar ao sítio, localizado no Córrego São Roque para mostrar e contar sua versão à Polícia Civil de como tudo aconteceu. Ele estava no presídio de Caratinga desde o dia seguinte ao crime, foi levado para a delegacia por agentes penitenciários e depois seguiu junto do delegado do caso à época, Diogo Medeiros, e do inspetor Whesley Adriano para o local onde morava a filha da vítima.
Leonardo disse que estava escuro dentro do sítio e que o carro da frente bloqueou a passagem. “Estava no banco da frente como carona do meu tio. Daí veio o ‘Pico’ (Rhuandello Guingo, genro da vítima) em direção ao nosso carro, com a mão debaixo da jaqueta parecendo que estava armado. Primeiro foi do lado do motorista e depois veio do meu lado, fazendo ameaças, dizendo que ali não era prostíbulo”, contou Leonardo, dizendo que já conhecia “Pico”, pois estudava com seu irmão, mas não tem intimidade com ele.
Ele ainda revelou que enquanto falava com ‘Pico’, “foi juntando um monte de gente” na frente do carro deles e seu tio foi conversar com um homem de cabelos grisalhos, que ele soube depois que se tratava de José Miranda Júnior. O acusado disse que nesse momento ainda continuava dentro do carro conversando com ‘Pico’, quando seu tio pegou o celular para ligar para a polícia e Miranda teria impedido, segurando sua mão. Nesse momento, Leonardo disse que tirou seu tio da briga.
Questionado pelo delegado Diogo, se estaria armado, Leonardo disse que não. O acusado falou que Miranda empurrava seu tio e algumas mulheres estavam no meio, quando ‘Pico’ apareceu com uma foice e desferiu um golpe em suas costas e também tomou uma paulada na cabeça. “Senti algumas perfurações nas minhas costas, tinha uma menina me agredindo, tirei a faca das mãos dela e ‘finquei’ para frente”.
O inspetor Whesley e o delegado Diogo pediram que Leonardo mostrasse como foi essa ação de “fincar” a faca para frente. Ele disse que girou o corpo e “fincou” a faca e soltou assim que levou uma paulada, mas não sabia se tinha ferido alguém. Neste momento, provavelmente Leonardo tinha desferido o golpe fatal contra Lourdes.
Interrogado se soltou a faca porque quis ou porque tinha sido atingido por uma paulada na cabeça, Leonardo disse que não saberia responder. O acusado relatou que só ficou sabendo da morte de uma mulher quando estava no hospital e que a faca que tomou da menina que o “agredia” não era grande.
FAMÍLIA LEMBROU UM ANO DA TRAGÉDIA
Na edição do dia 22 de maio do ano passado, o DIÁRIO trouxe uma entrevista com a família Miranda, ainda incrédula e abalada pela tragédia que ceifou a vida de Lourdes. As filhas, Elen e Bianca aguardavam a marcação do julgamento de Leonardo, mas já falavam o que esperavam para o dia em que o acusado sentasse no banco dos réus.
Bianca afirmou que estava confiante na condenação do réu acusado pela morte de sua mãe. “Espero que seja feito o melhor. Aliás, o melhor não, o menos ruim, porque a minha mãe não volta. Nunca mais vou ver minha mãe e nem vou poder ter ela, contar para ela como é que está a minha vida. Ou ter ela no dia a dia, nas datas especiais. Então espero que seja feito o merecido, porque nada vai tirar essa dor que a gente sente da falta dela. Acredito que no judiciário, as pessoas também são humanas e perder um ente querido da família da forma como nós perdemos nossa mãe, a família simplesmente se despedaçar… Acredito nas autoridades judiciais, que vão tomar uma atitude correta, justa, porque esse não é um crime que pode ficar por isso mesmo. Se eles pudessem se colocar no nosso lugar iam saber o quanto dói ter que aguentar todos os dias sem ela agora. Confio muito em Deus. Além do profissionalismo, existe humanidade nas pessoas”.
Elen também acreditava que a Justiça dará voz ao clamor daqueles que sofreram uma terrível perda. Ela afirmou que seguia com a confiança de que assim possam ter dias mais tranquilos, já que dias melhores, ainda é difícil arriscar a dizer que voltarão a reinar na família Miranda. “A morte da minha mãe marcou todo mundo, principalmente porque era uma pessoa muito querida por todos da cidade e vizinhos também. Morreu com 39 anos, tinha a vida toda pela frente. Era uma mega mãe, a gente tinha vários planos e infelizmente todos eles foram excluídos. Não tem possibilidade de recriar o que queríamos fazer. A minha mãe sempre foi exemplo de uma pessoa muito boa e acredito que pelo fato de ter sido essa pessoa tão generosa com todos; a justiça vai ser feita. Ela tem que ser feita, pois ela merece. A gente precisa que a justiça seja feita para se aliviar um pouco. Sentimos essa angústia todo dia, de saber que uma pessoa matou a minha mãe, sem motivo, nem conhecíamos ninguém. E saber que ele hoje está preso; sentimos certo alívio, mas saber que ele vai ficar lá e pagar pelo grande erro que fez, vai dar um conforto muito grande para a nossa família. Sem dúvida alguma”.