Pediatra e neonatologista fala sobre as consequências que a ingestão de bebida alcoólica pode causar, como a Síndrome Alcóolica Fetal
O uso de bebida alcóolica durante a gravidez pode ser encarado por muitos como uma prática comum e sem perigo. Algumas gestantes afirmam que “é só uma dose”, acreditando que isso não trará consequências ao feto. No entanto, esta opinião não é compartilhada por especialistas. Como não há comprovações científicas da quantidade de ingestão de bebida alcóolica, de modo a não afetar os bebês, a recomendação é de que durante o período de gestação, as mulheres se mantenham longe do álcool.
Para reforçar as recomendações sobre a importância dessa conscientização, a Sociedade Brasileira de Pediatria está promovendo uma campanha com informações sobre a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que pode acometer bebês em que as mães consumiram bebida alcóolica durante a gravidez.
A pediatra/neonatologista Fernanda Sales de Oliveira tira as principais dúvidas sobre o assunto.
O que é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)?
É um conjunto de sinais e sintomas que um feto pode apresentar, caso a mãe faça uso de álcool durante a gravidez, tanto alterações orgânicas como comportamental cognitivas.
Quais são as principais consequências aos bebês que nascem com essa síndrome?
Podem apresentar alterações tais como: a principal alteração, tanto orgânica como funcional, ocorre no Sistema Nervoso Central com graus variados de distúrbios psiconeurológicos como, distúrbios de comportamento, atraso no desenvolvimento cognitivo, dificuldade no aprendizado, crises convulsivas, alterações na audição, visão e fala, retardo mental, etc; alterações na arquitetura crânio facial: microcefalia, nariz curto, diminuição da mandíbula, globo ocular de tamanho menor, estrabismo e pálpebra superior baixa (ptose palpebral); alterações cardíacas – cardiopatias congênitas; peso baixo ao nascimento; alterações no sistema musculoesquelético como desalinhamento na coluna vertebral – escoliose e alterações renais: como dilatação dos rins – hidronefose
A mulher grávida ao consumir uma dose de bebida alcoólica já está colocando a saúde do seu filho em risco?
Sim, porque não dispomos de estudos que nos revelem níveis seguros de consumo de álcool durante a gravidez e garantam o nascimento de uma criança saudável. Sendo as consequências tão graves e irreversíveis, orientamos a isenção total de consumo de álcool.
Quando a mulher ingere bebida alcóolica, como o álcool chega até o feto e o que acontece?
Através da placenta, o álcool atinge o feto e pela imaturidade de mecanismos enzimáticos fetais, a metabolização e excreção do álcool são mais lentificadas e ainda o líquido amniótico funciona como reservatório do álcool, perpetuando os efeitos deletérios do mesmo no feto.
E se a mulher descobrir a gravidez após ingerir bebida alcoólica?
Deve parar imediatamente com o consumo de álcool, pois a relação entre ingestão de álcool e a determinação bem como a gravidade da síndrome (SAF) dependem da dose consumida, como é consumida, do período gestacional, do metabolismo do álcool no organismo materno e fetal, da saúde da mãe e da sensibilidade genética do feto.
É possível diagnosticar a SAF durante a gestação? Como?
Sim, pelo acompanhamento médico periódico da gestante no pré-natal. Com a realização de exames ultrassonográficos e a informação do uso de álcool pela gestante é possível a suspeita clínica da SAF. As evidências serão: feto com baixo peso e a possibilidade de identificação ao exame ultrassonográfico de malformações congênitas (no sistema nervoso central, cardíacas, renais e na face).
A SAF tem cura ou tratamento?
A cura infelizmente não é possível, sendo a melhor forma de prevenção a informação a todas as mulheres em idade fértil, para evitar o consumo de álcool, caso haja o desejo de engravidar. O tratamento é apenas suportivo com equipe multidisciplinar para redução na intensidade das sequelas com médicos, psicólogos, fonodiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
Estudos apontam que 50% das mulheres brasileiras ingerem alguma dose de álcool no período da gestação. Elas geralmente revelam essa prática ao médico?
Infelizmente não e isto faz com que não tenhamos estatísticas confiáveis no Brasil da real incidência da SAF, o que traz atraso na formulação de políticas públicas de orientação às gestantes e suporte às crianças acometidas pela SAF.
A Sociedade Brasileira de Pediatria lançou recentemente uma campanha para conscientizar a população e os profissionais pediatras sobre os danos causados pelo uso do álcool durante a gravidez e combate a SAF. O que a senhora pensa sobre essa campanha?
Muito importante, pois a prevenção e a conscientização da população é realmente o melhor tratamento para SAF.