Nunca na história da humanidade houve tanta facilidade e acesso ao conhecimento quanto na geração em que estamos, e em contrapartida, pelo menos em nosso país, nunca se observou tanta aversão ao mesmo.
Com advento da internet, e dos equipamentos digitais, o homem presenciou diante de si o nascimento e a instauração de um novo universo, um universo de extensões quase infinitas, e que traz consigo o potencial de transformações e mudanças para a sociedade, tendo como epicentro dessas transformações sociais a transformação individual de cada pessoa que queira se aventurar nesse novo universo de infinitas possibilidades que se apresenta ao homem moderno. Tal universo é o universo do conhecimento.
Esse novo universo, mesmo com sua extensão quase infinita e sua infinidade de possibilidades e importância, está disponível a todos aqueles que o queira e, devido o avanço da tecnologia, podemos ter acesso à ele até mesmo pelos nossos celulares. Quase todos os celulares de hoje têm, ou possuem a capacidade de ter, aplicativos de leitores de livros digitais, tecnologia essa que também se encontra em tablets, e em aparelhos específicos para a tarefa da leitura de tais livros, além, é claro, do bom e velho livro físico, para o qual também há em nossos dias, inúmeros caminhos rápidos, fáceis e, muitas vezes, baratos, para que possamos adquiri-los e nos deliciar em seu universo particular, recheado de saber, conhecimento, instrução, emoção, divertimento e prazer.
A facilidade que hoje se tem de buscar e alcançar o conhecimento é inegável. Todos aqueles que se decidem pela busca do conhecimento e do saber, encontram hoje acesso fácil, rápido e, até de certa forma, irrestrito, à uma enorme quantidade de materiais que os auxiliarão durante essa busca. Mas, mesmo diante de tanta facilidade, uma triste realidade tem se instaurado no Brasil; a total falta de interesse da maioria da população pela busca do saber.
A falta de interesse pelo conhecimento não é restrita apenas às massas que tiveram pouca, ou nenhuma, oportunidade de estudos, muito pelo contrário, o que qualquer um pode ver, principalmente aqueles que trabalham dentro da sala de aula, é que, mesmo aqueles que já estão estudando, até mesmo no ensino superior, a maioria carece de “vontade de aprender”, em muitos casos, é claramente visível a falta de dedicação de alguns aos estudos.
Infelizmente, para muitos a vida de estudos começa e termina dentro das instituições educacionais e que, fora desses recintos, é praticamente um atentado para com tais pessoas falar com elas sobre estudos. Assim, crescemos com uma classe de “estudantes” que pensam que o saber e a vida de estudos está condicionada e restrita pura e tão somente dentro das instituições, e que, como consequência, muito dificilmente terão seus horizontes intelectuais expandidos além do que aprenderam dentro do “recinto estudantil”.
Essa falta de interesse na aquisição de conhecimento se dá de várias formas: seja no estudante universitário que visa unicamente o seu diploma, sem se importar realmente com o aprendizado e a aquisição do conhecimento, seja nos inúmeros alunos que, depois de deixarem o recinto estudantil, seja de qualquer nível, e seja por qual motivo for, abandonam total e completamente seu contato com os livros e qualquer material ou atitude que se volte para os estudos, ou os faça lembrar do ambiente escolar. Essas são algumas dentre muitas atitudes que, juntas, ajudam para o crescimento do descaso para com os acontecimentos em nossa sociedade, que encontram alguns de seus motivos na falta de alternativas para a execução de mudanças necessárias, não por que tais alternativas não existam, mas, por que aqueles que poderiam, e deveriam, encontrá-las e colocá-las em prática, são totalmente incapazes de vê-las, devido à sua visão enormemente restrita pela falta de conhecimento derivada da educação grotescamente limitada.
Trazemos e conservamos na cultura educacional brasileira uma dependência muito grande dos profissionais da área de educação e das instituições educacionais. Há aí uma má compreensão dos papéis por estes representados. Os professores têm como seu ofício mostrar aos estudantes o caminho a ser percorrido. Eles norteiam e apontam a direção a ser percorrida no caminho estudantil, e durante certo tempo, eles os guiam durante essa jornada, caminhando a seu lado. Mas, diante dos inúmeros papéis que hoje o professor tem que desempenhar em nosso país, seu principal trabalho acaba sofrendo dano, não por sua culpa, e tendo de lidar, além de tudo, com a falta de interesse de nossos jovens. Além dos “mestres” que querem tão somente que seus alunos aprendam a repetir aquilo que é “ensinado”, limitando todo e qualquer avanço no aprendizado individual.
Mas, o que acontece depois que os jovens deixam as instituições de ensino? Será que os estudantes têm a capacidade de andar sozinhos, de seguir por conta própria o caminho apontado por seus mestres? Infelizmente, muitos não têm essa visão e nem essa capacidade, e é aí que reside o erro de muitos estudantes: depois de deixarem as instituições de ensino e a presença de seus mestres, são muitas vezes incapazes de caminhar sozinhos e, de pensar e fazer relações por si próprios. Estacionam em sua jornada, retendo pura e tão somente as dicas do caminho a ser seguido que, com o tempo e por falta de aprimoramento e engajamento, acabam se tornando supérfluos, desatualizados, ineficientes…
Uma sociedade melhor se faz com pessoas bem instruídas e empenhadas na mudança, e tal instrução não fica tão somente restritas as universidades e escolas. Devemos buscar fazer da cultura e do aprendizado um hábito de nossas vidas. Ninguém sai perdendo ao se decidir pela busca do conhecimento, e como podemos ver, tal conhecimento está ao alcance de quem quer e esteja disposto a tê-lo.
Leia mais, pesquise mais, estude mais, elabore projetos, faça planos, analise situações e se proponha a buscar ideias e maneiras de resolvê-las, não se assuste ao perceber que é justamente isso que você aprendeu nas instituições de ensino. O caminho nos foi apontado, o que nos falta é coragem e disposição trilhá-lo.
Como cidadãos brasileiros, precisamos romper com essa aversão aos estudos que tem se instaurado em nossa sociedade. Precisamos de mudanças em nossos parâmetros sociais, e a cultura tem um enorme papel nas mudanças a serem desempenhadas, e tais mudanças começam a partir de cada um de nós, quando decidimos expandir nossos horizontes através de nossa cultura pessoal. O conhecimento transforma, tanto pessoalmente quanto socialmente, e as mudanças que tanto precisamos virão a partir dele.
Wanderson Reginaldo Monteiro
(São Sebastião do Anta – MG)