Mulher conta como divide seu tempo entre ser mãe e atuar como garota de programa
CARATINGA – A entrevistada do DIÁRIO pediu para ser chamada apenas de ‘Mariana’. Este nome, que teve origem na junção de ‘Maria’ com ‘Ana’, serve para ilustrar a dupla vida dessa mulher. Ao dia, ela é a mãe dedicada que faz questão de levar os filhos até a escola. Filhos estes gerados durante seus programas e ela nem saberia dizer quem seriam os seus pais. Durante a noite, Mariana sai à procura de clientes. Ela se prostitui desde os 16 anos. Já são mais de 20 anos nesta vida. Sua idade atual, ela preferiu esconder.
A rotina sofrida não tirou os belos traços de Mariana. Cabelos louros e olhos claros chamam a atenção. Mas é nítido o cansaço em seu jeito de falar. Ela demonstra não suportar essa situação e anseia por dias melhores. “Quero sair dessa vida. O problema é quando sair”, afirma.
Mariana já tentou deixar a noite, mas admite que não se esforçou muito para deixar de ser uma ‘garota de programa’ (N.E.: Durante a entrevista em nenhum momento ela se classificou como ‘prostituta’. Quando se referia a si, sempre usava o termo ‘garota de programa’). Ganha em média 150 reais por noite. Certa vez chegou a faturar 400 reais em 12 horas. “Mas nem sempre é assim. Tem dia que saio e não arrumo um cliente sequer”, admite Mariana.
Batizada na Igreja Católica, Mariana já frequentou igrejas evangélicas. “Mas a vida que eu levo não combina. Não me permite frequentar igrejas. Mas eu não ligo, acho que Deus está dentro do coração de cada um”, afirma.
Como você entrou para este mundo de garota de programa?
Comecei aos 16 anos. Minha família passava muitas necessidades e eu não conseguia emprego. Então começaram a surgir propostas de homens querendo tocar o meu corpo. Entrei para esse mundo e tive uma filha com um desses homens. A situação piorou e fui morar no Rio de Janeiro, onde me tornei realmente uma garota de programa.
Como está sua vida atualmente?
Hoje sou uma mulher sozinha. Tenho três filhos e moro com uma colega. Infelizmente perdi minha mãe. Ela muito me ajudou. Agora vivo para tratar dos meus filhos e tentar ter algo nessa vida.
Seus filhos sabem que você é uma garota de programa?
Não. Até então consigo esconder isso deles. Tento ter uma vida normal. Levo os meus filhos para a escola. Não levo clientes para minha casa e nem mesmo os meus amigos. É uma forma de não confundir a mente dos meus filhos. Eles podem achar que é o namorado da mamãe. Por isso evito esse tipo de coisas. Vivo em função dos meus filhos.
Os seus filhos sabem quem são os seus pais?
Não sabem. São frutos de relacionamentos que tive nos programas. Eu me previno, mas o preservativo estourou nessas ocasiões.
Pensou em abortar?
Tive oportunidade de fazer aborto, mas não quis. Não sei quem são os pais, porém a mãe sou eu. Quando você começa sentir os batimentos cardíacos dentro de sua barriga não tem como tirar. Você passa a amar a criança com ela ainda no seu ventre.
É possível sustentar a casa sendo uma garota de programa?
Antes conseguia um dinheiro razoável. Hoje esta mais difícil. Temos que procurar os clientes. Antes eles vinham até nós. Tem dia que saio e não consigo nada. Mas, em média, são 150 reais por noite. Costumo trabalhar umas cinco noites por semana. Mas certa vez consegui 400 reais.
Você já sofreu algum tipo de violência?
Nunca dos meus clientes. No Rio de Janeiro que fui assaltada no final da noite.
Tem vontade de deixar essa vida?
Sim. Como lhe disse. Estou nessa vida por necessidade. Fica difícil arrumar emprego, pois a minha escolaridade é baixa. Porém pretendo deixar o que faço. Um dia a casa cai, a gente fica velha, tudo acaba e os clientes somem.
Você que ronda as noites de Caratinga, existem muitas menores se prostituindo?
Sim. Mas percebo que a maioria é por causa das drogas. Não é por necessidade e nem por falta de estudo. Elas começam na maconha, passam para cocaína e chegam ao crack. Vão se prostituir para conseguir dinheiro para comprar pedra (crack).
Já usou drogas?
Sim, mas graças a Deus larguei esse vício.
Qual sua mensagem para as jovens que pensam em entrar nessa vida?
Isso não é vida fácil. Se fosse fácil a gente não passava necessidade. Rende um bom dinheiro, mas não é todo dia que isso acontece. No início é ilusão. O dinheiro dá pra comprar roupa de marca, andar na moda. Mas depois a ficha cai e você percebe que não terá nada no futuro.
Qual o perfil de seus clientes?
Geralmente são homens casados que me procuram. Os solteiros querem é farrear ou tem namoradas.
Já teve algum programa que lhe deu medo?
Medo não combina com esse tipo de vida. Mas acontece que depois do programa a pessoa não quer lhe pagar. Aí eu tenho que brigar pelo que é meu.
Qual o seu sonho?
Dar uma casa e estudo para cada um de meus filhos. Também quero viver em paz. Isso pra mim é o suficiente.
Um comentário
Gilberto
Não descrimino a profissão dessa mulher, pois ela luta pra cuidar dos filhos. Existe um coração nesta pessoa!