Família fala sobre os dias difíceis que têm enfrentado e busca conforto na espera por justiça
CARATINGA – 17 de maio de 2015. Essa data jamais será esquecida pelos familiares de Lourdes Moreira Costa Miranda. A mancha negra que ainda paira sobre a família vem da lembrança da noite de terror, que resultou na morte imediata de Lourdes.
O crime aconteceu Córrego São Roque, às margens da BR-116, zona rural de Caratinga, e teve repercussão nacional. Conforme apurado pela Polícia Civil, Lourdes e seus familiares foram abordados por Leonardo Tavares Silveira, então com 26 anos, que tinha mais três pessoas em sua companhia. Eles estavam no Corsa Classic, placa HLW-2680, e chegaram perguntando onde seria a ‘casa da tia Lúcia’, referindo-se a um prostíbulo.
Quando foram informados que naquele local não funcionava este tipo de estabelecimento, Leonardo usou uma faca e desferiu um golpe certeiro no peito de Lourdes.
Um ano se passou. Leonardo está preso, aguardando a decisão da justiça. Enquanto isso, familiares de Lourdes tentam, aos poucos, retomar a rotina e entender um novo jeito de viver sem a mulher, que era considerada o esteio da família.
Na semana em que se completou um ano da tragédia, o DIÁRIO DE CARATINGA esteve novamente na casa em que Lourdes morava com o esposo, José Miranda Júnior e o filho, à época com 11 anos de idade. Apesar de não morarem na residência, as filhas, Elen Mara Miranda Costa e Bianca Miranda Lopes, sempre estavam na casa da mãe. Os dias ainda são de angústia e de dor diante do inexplicável.
Para Elen, falar da vida sem a mãe ainda é muito difícil. Ela afirma que a família tenta aos poucos seguir em frente. “Tentando entrar no eixo até hoje. Infelizmente não é algo que vai entrar no eixo 100%, mas a gente está tentando seguir o caminho, que acho que ela queria que a gente fizesse. Ainda tem essa certa turbulência, porque fez um ano agora, ainda é muito pouco, as coisas são difíceis de entrar no lugar”.
Entender a dor da perda, principalmente quando ocorre de maneira repentina, mexe com o psicológico de qualquer. E se é difícil lidar com ela, mesmo quando se é adulto, pior para crianças ou quem está em fase de pré-adolescência. Elen afirma que a família tem contado com auxílio de um profissional, para que o seu irmão e os netos de Lourdes enfrentem esse período. “Os meninos veem foto e lembram: ‘a vovó’. Ontem mesmo a minha filha viu uma foto e falou: ‘É a vovó mãe?’. Falei: ‘É minha filha, é a vovó, ela virou estrelinha’ e ela fala ‘vovó estrelinha’, mas não entende. Só a gente que é maior mesmo sabe o que aconteceu. Tentamos ocupar bastante a cabeça do meu irmão, não deixar pensar em coisas complicadas, porque querendo ou não ele está em uma idade mais difícil, adolescência, perder a mãe da forma que perdeu. Então, a gente tenta colocar ele no caminho certo, está estudando graças a Deus, não tem dado nenhum tipo de problema, tem ido ao psicólogo para auxiliar. Mas, é só o tempo mesmo”.
“SE ELA ESTIVESSE AQUI, SERIA SÓ FESTA”
E por falar em tempo, esse tem sido o grande pesadelo enfrentado por Bianca. À medida que os dias avançam; menos a jovem compreende como manter-se firme sem a mãe. O maior desafio tem sido as datas especiais, que sempre eram celebradas pela família e que hoje não deixam motivos pra comemorar. “Ainda parece que não caiu a ficha de que já faz um ano. Já passei natal, ano novo, mas acho que o pior pra mim foi o Dia das Mães. Lembrar do ano passado, exatamente uma semana antes de ela falecer, acho que foi o mais doloroso. Mas, a gente vai levando a vida do jeito que der, segurando as pontas de um lado, do outro. Faço tudo que acho que me minha mãe ia gostar que eu fizesse. Tenho dois filhos pra criar, então não posso abandonar tudo”.
Bianca lembra que, ao contrário dos anos anteriores, o Dia das Mães deste ano foi sombrio. “Eles falam que o primeiro é o mais difícil, mas não acho que é questão de ser o primeiro, todos daqui pra frente serão difíceis. Estava faltando um pedaço. Não comemorei meu dia das mães, chorei o dia inteiro, não consegui aceitar que era o primeiro sem ela. Não tive vontade de sair pra almoçar, nem de ir pra minha avó como a gente sempre ia. A única coisa que eu fiz foi ir à igreja e pedir conforto de Deus para passar esse dia”.
Quando se fala em Lourdes, a principal característica que vêm à mente dos familiares é a alegria e a satisfação que ela tinha de reunir a família e receber os netos. Para Bianca, a imagem da avó que mimava os netos e aconselhava os filhos, deixa uma grande falta. “Se ela estivesse aqui hoje seria só festa. Ela era doida com esses meninos. Eram a paixão da vida dela e eles também, todos, até o meu pequenininho, quando ela faleceu tinha cinco meses, já era apegado a ela. Agora, o meu mais velho então, que estava com dois anos e três meses, tinha dia que eu tinha que sair da minha casa, para trazer ele pra vir até a dela pra dormir, porque ele pegava o telefone e era aquele xodó mesmo, aquele carinho trocado entre os dois. Depois do que aconteceu ele simplesmente não fala nela, mostro foto, ele não fala. Quando eu pergunto ele muda de assunto, parece que ele percebeu a falta dela”.
“MINHA FAMÍLIA FOI VÍTIMA DE UMA CRUELDADE”
Desde a morte de Lourdes, o esposo precisou assumir uma figura ainda mais forte e administrar questões complexas, até mesmo domésticas, que facilmente antes eram dedicadas por Lourdes. Desde garantir que o filho dormia bem ou se ele tomaria o café pela manhã. Para Miranda, a vida diariamente tem sido um desafio. “Mudou totalmente a nossa vida, e a gente está tentando refazer. Meu sogro infelizmente não vai ter como recomeçar a vida dele, porque ele perdeu uma filha e eu perdi uma esposa. Queremos que um crime bárbaro, que aconteceu de forma cruel e covarde, que acabou matando uma mulher, sem a mínima chance de defesa não caia no esquecimento”.
As circunstâncias que levaram à morte de Lourdes ainda permanecem bastante claras em sua mente. A qualquer momento, Leonardo Tavares, pode ser julgado pelo crime e cabe à justiça decidir o seu destino. Miranda diz o que espera desse dia. “Acredito na justiça dos homens, aqui na terra e na justiça divina, que será feita. A minha família foi vítima de uma crueldade, que não sei dizer que tamanho. Terrível. O que aconteceu com a minha família, poderia acontecer com qualquer outra. Um sujeito covarde e cruel, capaz de sem motivos matar uma mulher indefesa, deixando órfãos três filhos e três netos, desconsiderando toda a sua família, pai, mãe e irmãos, não merece convívio no meio social. Espero que fique muito tempo preso, para outras famílias não correrem o risco. Espero que a justiça seja feita. Esse sujeito é de grande risco para a nossa sociedade e ficando uns bons anos na cadeia, talvez possa voltar com novos comportamentos. Acredito que as autoridades judiciárias vão fazer um bom trabalho, eles têm mostrado um bom trabalho e estão dando um bom exemplo para a nossa cidade”.
FILHAS PEDEM JUSTIÇA
Questionadas sobre o que esperam daqui para frente, as irmãs Elen e Bianca se olharam e buscavam resumir o sentimento, que na verdade representa um só caminho: justiça. Bianca afirma que está confiante na condenação do réu acusado pela morte de sua mãe. “Espero que seja feito o melhor. Aliás, o melhor não, o menos ruim, porque a minha mãe não volta. Nunca mais vou ver minha mãe e nem vou poder ter ela, contar pra ela como é que está a minha vida. Ou ter ela no dia a dia, nas datas especiais. Então espero que seja feito o merecido, porque nada vai tirar essa dor que a gente sente da falta dela. Acredito que no judiciário, as pessoas também são humanas e perder um ente querido da família da forma como nós perdemos nossa mãe, a família simplesmente se despedaçar… Acredito nas autoridades judiciais, que vão tomar uma atitude correta, justa, porque esse não é um crime que pode ficar por isso mesmo. Se eles pudessem se colocar no nosso lugar iam saber o quanto dói ter que aguentar todos os dias sem ela agora. Confio muito em Deus. Além do profissionalismo, existe humanidade nas pessoas”.
Elen também acredita que a Justiça dará voz ao clamor daqueles que sofreram uma terrível perda. Ela segue com a confiança de que assim possam ter dias mais tranquilos, já que dias melhores, ainda é difícil arriscar a dizer que voltarão a reinar na família Miranda. “A morte da minha mãe marcou todo mundo, principalmente porque era uma pessoa muito querida por todos da cidade e vizinhos também. Morreu com 39 anos, tinha a vida toda pela frente. Era uma mega mãe, a gente tinha vários planos e infelizmente todos eles foram excluídos. Não tem possibilidade de recriar o que queríamos fazer. A minha mãe sempre foi exemplo de uma pessoa muito boa e acredito que pelo fato de ter sido essa pessoa tão generosa com todos; a justiça vai ser feita. Ela tem que ser feita, pois ela merece. A gente precisa que a justiça seja feita para se aliviar um pouco. Sentimos essa angústia todo dia, de saber que uma pessoa matou a minha mãe, sem motivo, nem conhecíamos ninguém. E saber que ele hoje está preso; sentimos certo alívio, mas saber que ele vai ficar lá e pagar pelo grande erro que fez, vai dar um conforto muito grande para a nossa família. Sem dúvida alguma”.