Ildecir A. Lessa
Advogado
Numa observação da letra da música “Tocando em frente”, de Almir Satter e Renato Teixeira, constata-se um cenário do dia a dia. Do sentido de ir andando em suas ações, já priorizadas e seguras em sua importância para aquele que fez a escolha da caminhada. A poesia de música fala de compreender essa marcha escolhida; é, de certa maneira, a seleção de como cada um carrega sua filosofia de vida. Os autores nos relatam através da música que cada um de nós é responsável em construir a sua história, e carrega dentro de si o dom de ser feliz, e é a partir do ponto de vista de como cada um enxerga as coisas e as valorizam não importa o que aconteça, o que se tem que fazer é tocar em frente. Alguém que já sabe que tudo na vida é questão de decisão, até mesmo chorar ou sorrir. Faz-nos pensar que viver é simplesmente ir tocando em frente (um dia de cada vez) como um velho boiadeiro tocando a boiada eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou (e então, se compara com a mesma estrada) Estrada eu sou; nos faz refletir que, na realidade, o que importa é a experiência que cada um carrega dentro de si, e nos leva a certeza de que muito pouco ou nada se sabe, o que importa é sentir mais forte e mais feliz que antes.
A obra é admirada por todos por mostrar, de uma forma bem simples, como a vida é. Concorda com os autores, a neurocientista israelense Jennifer Ann Thomas, em entrevista à Veja do dia 04 de maio, onde diz que: “Acreditamos, naturalmente, ter controle sobre nossa vida e que podemos direcioná-la ao caminho certo”. Mas, quando cada um de nós programa sua vida para viver em um país estável, equilibrado e em franco progresso e, essa expectativa é frustrada pelos eventos políticos, e cada um de nós tem de tocar sua vida no Brasil, onde a crise política, chegou ao clímax com a sinalização de que a operação Lava Jato ainda não termina e, o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ainda vai longe, gerando um cenário político cada vez mais crônico, isso tende a afetar psicologicamente cada um de nós, brasileiros, criando uma atmosfera de descrença. Essa descrença é provocada pela desordem política e econômica, conforme avalia a neurocientista Jennifer “Sabemos, contudo, que não temos esse controle sobre a política. Consequentemente, nós nos tornamos descrentes dos governantes. São eles, os líderes, que deveriam alimentar o próprio otimismo para tomar decisões corretas e levar o país para a estrada certa”.
A avaliação da psicoterapeuta Hilda Medeiros diz que, na política, há correntes de pensamento e uma atmosfera em que as pessoas são obrigadas a tomar um partido. “Nossos estados emocional e físico funcionam como filtros da realidade. Esses filtros determinam o modo como percebemos a realidade e nos mostramos para o mundo”. Nesse sentido, acrescenta, o momento político afeta as pessoas. Umas tendem a ir para o confronto na defesa de seus pontos de vistas, seja contra ou a favor do governo. Outras preferem avaliar a situação sem entrar no mérito do certo ou errado. A questão do impeachment, diz Hilda, aflora os sentimentos de tensão emocional. “Quando nos encontramos em estado ‘crash’, sob tensão, acessamos territórios emocionais que nos limitam, como ódios, rancores e medos. É possível afirmar que a raiva, o medo e a desconexão de nós mesmos são verdadeiros venenos para um sistema integrado. Nesse estado de tensão, os filtros da percepção congelam e passamos a reproduzir experiências passadas, como máquinas desconectadas de nossa essência humana. Contraímo-nos e nos tornamos reativos, fechamos as portas que ampliam novas possibilidades e deixamos de perceber as alternativas”, explica. Nesse estado de espírito, as outras pessoas se tornam extensão de nossas próprias inseguranças. “Espelhamos nos outros as nossas próprias frustrações. Com nossos filtros congelados, nos tornamos distantes de nós mesmos porque a energia deixa de fluir e consequentemente não encontramos respostas além da agressividade para lidar com as diferenças”, comentou.
É preciso lembrar que a vida é criada por opostos, tristeza e alegria, raiva e paz, medo e confiança, desconexão e de oposto. Hilda cita o filósofo Sócrates para ensinar a evitar conflitos políticos radicais. “Sócrates nos ensinou a arte da pergunta para, ao invés de tomar partido apaixonadamente, envolvido apenas por emoções, em sua sabedoria, se dissociava do problema e refutava seu interlocutor sobre os prós e contras da questão proposta. O objetivo era encontrar a verdade na sua mais autêntica forma”, disse a psicoterapeuta. Mas para quem tem de tocar a vida em frente, em meio ao um cenário nacional de crise, nada melhor do que a motivação, que é a chave mestra de qualquer objetivo que temos na vida. Com motivação vamos a qualquer lugar e construímos os caminhos, acreditamos e buscamos oportunidades. A crise é sempre um desafio, que, mas de alguma forma estamos sempre envolvidos em alguma, de menor ou maior consequência, sendo ilusão esperarmos linearidade da vida e termos expectativas de que a estabilidade é nosso melhor cenário. A vida é mudança permanente e pede coragem e criatividade para driblar os desafios da crise. O cenário atual do Brasil é desafiador. O presidente Kennedy adorava repetir que a palavra crise em chinês é formada pelos ideogramas de perigo e oportunidade. Por esse raciocínio, pode até ser que quem enfrente uma grande crise esteja enfrentando um grande perigo – mas também está podendo aproveitar uma grande oportunidade. Em português, a palavra crise traz embutida uma sugestão preciosa: crie. Algumas palavras são como lições. Steve Jobs foi um mestre em lições de crise: ao invés de se sentir derrotado quando foi demitido da Apple em 1985, fundou uma nova empresa chamada Next, que acabaria comprada pela própria Apple em 1997 (o mesmo ano em que Jobs reassumiria o controle da companhia) por 400 milhões de dólares. O cenário hoje no Brasil é de inflação alta, redução de consumo e aumento de carga tributária – por conta dos ajustes fiscais dos governos federal e estadual – os quais são apenas alguns dos fatores que vêm comprometendo a vida já combalida do brasileiro. Com essas pontuações, mesmo apresentando a crise, o cenário econômico atual, agravado pela crise política, um fator desconcertante, o momento é de reflexão para caminhar em frente.
Por isso mesmo, a melhor maneira é viver com otimismo, simplesmente tocando em frente como um velho boiadeiro tocando a boiada cada um de nós vai tocando a vida , nessa longa estrada eu vou, aguardando o alvorecer da aurora da esperança de dias melhores, na estrada da vida. Estrada todos nós somos.