Uma mulher que fez tanto pelo Brasil, por sua gente, especialmente pelos menos favorecidos, merecia ter sido reconhecida, de forma mais efetiva, antes de encerrar os seus trabalhos. Ela figurou a lista de mulheres mais importantes do planeta e, no ano de 2012, em uma relação feita por pessoas influentes de várias partes do mundo, foi considerada a 17ª maior brasileira de todos os tempos. Por várias vezes, no Brasil e no exterior, foi reconhecida por suas ações na área social, concentrando energia e esforço no resgate social daqueles que sofrem os efeitos mais nefastos da injusta divisão de renda e da divisão de classes.
Suas ações, responsavelmente consistentes, evitaram a morte de centenas de milhares de crianças no Brasil, principalmente as mais carentes, e serviram de modelo para programas semelhantes, que foram espalhados pelo mundo, salvando a vida de milhões de pessoas. Também os idosos mereceram a sua atenção, a sua dedicação. Talvez, por terem sido justamente esses dois grupos – idosos e crianças -, o principal alvo de sua militância, é que essa senhora não tenha recebido o devido reconhecimento por parte da nação, já que não se concentrou nas classes A e B – não obstante atendê-las, também, de alguma forma -, mas, sim, nas classes C, D e E. Aliás, ela propiciou, através de seu labor, que milhares de brasileiros ascendessem às classes sociais superiores às que se encontravam.
Embora o reconhecimento não tenha sido pleno, é preciso registrar, porém, que ela recebeu muitas homenagens. Tornou-se cidadã honorária de onze estados e de trinta e dois municípios brasileiros, além de ter recebido o título de doutora Honoris Causa de cinco universidades do país. Entre os vários prêmios nacionais recebidos, destacam-se: Diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz, do Senado Federal, em 2005; Troféu de Destaque Nacional Social, principal prêmio do evento As mulheres mais influentes do Brasil, promovido pela Revista Forbes do Brasil com o apoio da Gazeta Mercantil e do Jornal do Brasil, em 2004; Medalha de Mérito em Administração, do Conselho Federal de Administração, em Florianópolis, Santa Catarina, 2004; Medalha da Inconfidência, do Governo do Estado de Minas Gerais, em 2003; Medalha Mérito Legislativo Câmara dos Deputados, em 2002 e a Comenda da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, grau Comendador, concedida pelo Tribunal Superior do Trabalho, em 2002.
Ela nasceu no Brasil, embora os seus ascendentes diretos fossem europeus. Foi criada com carinho, afeto, disciplina rígida, mas não deixou de viver os bons momentos, típicos de toda criança que cresce no interior desse imenso país.
Em um de seus muitos discursos, sempre dirigidos aos mais necessitados do país, alvo permanente da sua firme atuação, ela registrou: “… Cremos que esta transformação social exige um investimento máximo de esforços para o desenvolvimento integral das crianças. Este desenvolvimento começa quando a criança se encontra ainda no ventre sagrado da sua mãe. As crianças, quando estão bem cuidadas, são sementes de paz e esperança. Não existe ser humano mais perfeito, mais justo, mais solidário e sem preconceitos do que as crianças. Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazerem seus ninhos no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, também nós devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”.
A injustiça à qual me refiro – e eu tenho quase certeza que você pensou em outra brasileira, também filha de imigrantes -, aconteceu em 2006, quando a médica sanitarista doutora Zilda Arns Neumann, junto com outras novecentas e noventa e nove mulheres de todo o mundo, selecionadas pelo Projeto “1000 Mulheres”, da Associação Suíça para o Prêmio Nobel da Paz, foi indicada para o prêmio. Infelizmente, ela não o recebeu. Mas, provavelmente o receberia em indicações seguintes, caso não tivesse morrido em 2010, tragicamente, em um terremoto em Porto Príncipe, onde se encontrava em missão humanitária, introduzindo a pastoral da Criança naquele país.
Um “viva” a D. Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e da Pastoral do Idoso. Injustiçada sim, pois quem semeou a Paz com tanto empenho poderia ter recebido, em vida, o Nobel da Paz. Porém, não tenho dúvida de que ela tenha recebido e usufrua do maior de todos os prêmios, concedido aos bons: o Céu!
* Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da Unec. Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do MAC, do Lions Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.