* Juliana Carvalho Reis
Todos os anos, com a chegada do outono e inverno notamos um aumento considerável no número de infecções respiratórias, entra elas a gripe, que nos últimos anos tem nos assustado com a sua “versão” H1N1.
Mas, de verdade, o que é uma gripe? A gripe é uma infecção do sistema respiratório, causada pelo vírus influenza que tem três tipos de apresentação: influenza A, influenza B e influenza C.
O vírus da influenza A ainda se subdivide em vários outros, entre eles, o H1N1, e estão presentes em diversas espécies, incluindo, além dos humanos, aves, suínos, cavalos, focas e baleias. É altamente variável, em média, a cada 10 anos um novo subtipo desse vírus é criado. Estas modificações ocorrem em virtude de mutações nas proteínas que compõem a superfície do vírus, de forma que o sistema de defesa do organismo das pessoas passa a não ter resposta pronta para uma nova ameaça instalada, sucumbindo à infecção. São nestes momentos que as grandes epidemias de gripe se alastram, a exemplos da gripe espanhola, da gripe aviária e da gripe suína.
O vírus da influenza B só está presente em seres humanos e alguns mamíferos aquáticos, raramente sofre mutações e por isso não é capaz de ocasionar grandes epidemias. Isso implica em certa imunidade contra esse tipo de gripe, de forma que os sintomas são brandos e raramente levam a hospitalizações.
Já o vírus da influenza C, pode estar presente em humanos, cachorros e porcos, contudo, normalmente, não desencadeia nenhum sintoma no homem, e quando desencadeia, cursa com problemas respiratórios leves, não tendo, portanto, impacto sobre a saúde pública.
De maneira geral, a gripe inicia-se de forma repentina, com febre alta, acima de 38ºC, seguida de dor muscular, dor de garganta, dor de cabeça, calafrios e tosse seca. A febre dura em torno de três dias, a tosse e outros sintomas respiratórios como secreções nasais e espirros tornam-se mais evidentes com a progressão da doença e mantêm-se, na maioria dos casos, por mais três a quatro dias após o desaparecimento da febre.
Em alguns casos o quadro de gripe pode se complicar e evoluir com falta de ar, dores no peito, tontura, confusão mental, fraqueza e desidratação, sintomas esses, que podem sinalizar uma pneumonia, inflamação do cérebro, inflamação do músculo cardíaco e dos músculos do corpo.
Importante ressaltar, que tais complicações, podem levar até a morte, principalmente, quando se trata de pessoas que têm a saúde fragilizada, como crianças, gestantes, idosos, pessoas com doenças cardíacas, pulmonares ou outras doenças crônicas.
Por ser uma doença muito comum e de fácil transmissão podemos adquiri-la várias vezes ao longo da vida. É transmitida, na maioria das vezes, de pessoa para pessoa através da tosse ou espirro, outras vezes, pode ser transmitida por contato com objetos contaminados.
De tal forma a prevenção ainda é o “melhor remédio”! Para isso estão disponíveis as vacinas da gripe que devem ser aplicadas anualmente de forma a garantir imunidade contra novas formas do vírus da influenza. Todos os anos a composição da vacina é alterada de acordo com o tipo de vírus mais provável de se disseminar.
A vacina garante prevenção de 70 a 90% dos casos de gripe, seu efeito começa as ser observado quinze dias após a sua administração, mas tem sua ação maximizada após, aproximadamente, quarenta e cinco dias da administração, portanto, a aplicação da vacina deve ser realizada antes do inverno, época em que estamos mais expostos à infecção pelo vírus da gripe.
Estão disponíveis dois tipos de vacina contra a gripe, a trivalente, que imuniza contra três tipos de vírus, e a tetravalente, que imuniza contra quatro tipos de vírus. Tanto a trivalente como a tetravalente protegem contra o subtipo H1N1 da influenza A, o qual, atualmente, é responsável por grande número de casos de gripe registrados.
A vacina trivalente é distribuída gratuitamente nos postos de saúde para os grupos mais suscetíveis a contrair gripe, portanto, para crianças a partir de 6 meses e menores de 5 anos, gestantes, idosos, profissionais da saúde, povos indígenas e portadores de doenças crônicas ou outras doenças que comprometam a imunidade. A tetravalente está disponível apenas em clínicas particulares, que também disponibilizam a trivalente.
Não obstante a restrição a distribuição gratuita da vacina nos postos de saúde, qualquer pessoa acima de 6 meses de idade pode e deve tomar a vacina contra a gripe. É muito importante que aqueles que têm contato direto com crianças menores de 6 meses sejam vacinados para evitar a transmissão da gripe a criança que não pode ser imunizada e também que a gestante se vacine, pois, as células de defesa da mãe passam para o bebê. Há evidências de que quem recebe a vacina todos os anos desenvolve mais resistência à gripe, por isso, o ideal é que todas as pessoas que têm acesso à vacina recebam-na anualmente.
É verdade que algumas reações adversas à vacina da gripe podem ocorrer, no entanto, costumam ser leves: dor no local da injeção, febre baixa e mal-estar, que duram, no máximo, dois dias. Porém, não é verdade que a vacina provoque gripe, o vírus utilizado na vacina é inativado em laboratório e nesse estado, não seria capaz de provocar uma gripe.
O que ocorre é que muitas vezes a gripe é confundida com outras viroses respiratórias como os resfriados, haja vista os mesmos também cursarem com coceira no nariz, irritação na garganta, espirros e secreções nasais, diferenciando-se da gripe apenas por não apresentar febre ou por apresentar febre baixa. Como os resfriados são causados por vírus diferentes dos da gripe, a vacina da gripe não protege contra resfriados, podendo o indivíduo, mesmo vacinado contra gripe, apresentar um resfriado.
Além da vacina, primar por uma boa condição de saúde e higiene auxiliam a prevenção da gripe. Recomenda-se lavar frequentemente as mãos com água e sabão a fim de minimizar a possibilidade do aparecimento da doença pelo contágio, praticar exercícios físicos regularmente, manter uma alimentação saudável e boa hidratação a fim de fortalecer o sistema imunológico e colocar o organismo apto a defesa contra os vírus, e ainda, evitar ambientes fechados com grande quantidade de pessoas pois são mais propícios a contaminação.
Enfim, vacinar ou não vacinar contra a gripe? Vacinar! Toda pessoa que tem acesso a vacina contra a gripe, seja através do sistema público ou privado de saúde deve ser vacinado assim que a vacina estiver disponível. Hoje, está é a forma mais eficaz de prevenção dessa doença.
* Juliana Carvalho Reis é fisioterapeuta especialista em Reabilitação Cardíaca e Fisioterapia Respiratória, coordenadora e professora do curso de Fisioterapia do Centro universitário de Caratinga.
Mais informações sobre a autora: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4550986P7